Maria Madalena
Ela está lá num bairro quase triste
Não fossem as pipas a brincar no céu
Pisa em calçadas estupradas
Aguarda em silêncio o desfecho da vida
É cúmplice de sua geração
Pendurada por décadas em morro fétido
De sua janela engole todo o movimento
Dos barcos e luzes
De uma cidade onde é estrangeira
Já não sonha mais...
Seus sonhos viraram pesadelos
Seus dentes caíram
Sem nunca terem mastigados troféus
Vestida em sua mortalha
Acredita em suas preces
Já que sua morada se mistura às núvens
De um céu onde reinam deuses
E onde dormem seus filhos sem pais
Na porta de seu esquife de madeira barata
Só gente varrendo gente
Poeiras que somem e poeiras que se instalam
Do pó ao pó.
(Rosana Banharoli)
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