A Garganta da Serpente

Rosana Banharoli

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Maria Madalena

Ela está lá num bairro quase triste
Não fossem as pipas a brincar no céu

Pisa em calçadas estupradas
Aguarda em silêncio o desfecho da vida

É cúmplice de sua geração
Pendurada por décadas em morro fétido

De sua janela engole todo o movimento
Dos barcos e luzes
De uma cidade onde é estrangeira

Já não sonha mais...
Seus sonhos viraram pesadelos
Seus dentes caíram
Sem nunca terem mastigados troféus

Vestida em sua mortalha
Acredita em suas preces
Já que sua morada se mistura às núvens
De um céu onde reinam deuses
E onde dormem seus filhos sem pais

Na porta de seu esquife de madeira barata
Só gente varrendo gente
Poeiras que somem e poeiras que se instalam
Do pó ao pó.


(Rosana Banharoli)


voltar última atualização: 06/08/2010
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