A Garganta da Serpente

Rubens Costa

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

CAIXA- D'ÁGUA

Pare!
Pare tudo, agora!
Parado?

Agora, feche os olhos.
Respire fundo, relaxe,
Esvazie a sua mente.

Sinta, agora, o seu corpo,
Cada pedacinho dele,
Sem pressa...

Sentiu?
É verdade, acredite,
Ele existe!

Tranqüilo?
Mente vazia... Ótimo!
Vamos em frente.

Próximo passo?
A imaginação!

Construa uma caixa-d´água,
Etérea e translúcida
Sobre a sua cabeça.

Calcule, agora,
A sua capacidade em litros.
Calculou? Ótimo!

O número que você achou
É o que, potencialmente,
Terás para viver. Impressionado?

Não, não se preocupe, é apenas imaginação.
Um pouco mais,
Um pouco menos...

Vamos continuar?

Lembra da sua primeira
Inspiração? Expiração?
Sei que não...

Ao teu primeiro respirar, acredite,
Pingou a primeira gota, da sua cota.
No segundo, a segunda...

Gota após gota,
Segundo após segundo, tens menos uma gota,
Na litragem que imaginastes ter.

Ainda de olhos fechados?
Nervoso?
E se você tiver errado no seu cálculo?

E se você estiver prestes
A respirar, transpirar,
A tua última gota?

Sim? Não?
Não sabeis, não podes saber...
Ninguém sabe!

Saiba, entretanto, que cada gota
É única, viva e presente.
A próxima... ainda ausente.

Saiba, também, que a vida
Não cobra e não pede,
Apenas esvai-se.

É da sua natureza...

Ela apenas é.
Sendo, dá. Dando, flui
Em cada gota.

Quantas gotas já caíram da sua caixa?
Não, não importa saber,
Elas se foram...

Quantas gotas restam cair da sua caixa?
Não, não importa saber,
Elas ainda virão...

Importa, sim, saber,
Que você esteja consciente
Nesta, prestes a cair.

Essa é a sua única certeza!

(07/10/2003)

(Rubens Costa)


voltar última atualização: 08/04/2008
9905 visitas desde 08/04/2008
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente