de olhos fechados amanhece o dia
P - R - E - G - U - I - Ç - O - S - A - M - E - N - T - E
o sol abre as cortinas
Café,
minha avó lembra
cheiro de café quente
(bolo
feio na hora)
Ah,
como eu queria ser criança
e ir brincar lá fora
Sorvete,
eu
gosto tanto de sorvete, mãe
(me
dá um pouco)
Até
o amargo era doce,
dá
um abraço ('tá tão frio)
Café,
quero esquecer de trabalhar
hoje
(dançar
só uma canção)
girar,
com
o vento fluindo por meus poros
Quando
(S - I - N - U - O - S
- A - M - E - N - T - E)
cheguei
aos
trinta
eu era,
quase
tudo que eu queria ter sido
eu era,
boa.
(amiga,
filha, amante, vizinha, cliente, profissional)
o engraçado é que eu era
(tão
pouco)
não que fosse pouco ser
(vizinha, profissional,
cliente, amiga, filha, amante)
mas o que eu era
(boa?)
acho que eu não soube querer
antes de ser
-
boa -
(amante, profissional,
filha, cliente, amiga, vizinha)
eu
deveria ser mulher
me ensinaram a ser doce,
gentil,
bonita
(eu
quero gritar)
é aqui que eu sei o que é ser mulher
quando eu fecho os olhos
e a vida no pulsar continua
sangue
- calor
- sonho
em mim um fluxo
desejos
amor
raiva
mágoas
força perdão
ser plena,
ser
tudo
e, ainda
ser boa
(quem sabe)
Hoje me trago nos olhos,
amor
preso em mim
Café,
vou
andar enfim,
há
vida,
trabalho
(Samahara)
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