O Mar
I
Frio cálido quente, água fervente.
Cores mil, negro, sombrio, claro azul cor de anil.
Sem medida no mundo; raso, médio, sem piso, muito profundo.
Não tem idade; criança, jovem, ancião, pai de toda humanidade.
Todos sentimentos; Amor, ódio, ira; és amável e não
tem arrependimento.
Banhas quem espera, a criança, a noiva, o ancião, o cadáver
e a fera.
II
Silencioso, sonoro, esplêndido e estrondoso.
Rebates na praia, nos pés, navios e montanhas na raia.
Nutres a gaivota, o homem, o leão e o tubarão.
Das a vida as algas, estrelas, golfinhos, tubarões e dragões.
Trás ao grande e ao pequeno; a saúde, a dor, o balsamo, o doce,
o acre, o antídoto e o veneno.
Acolhes o abastado, pobre, o saudável, o coxo, o doente e o cansado.
Tua água é benta; já foi o corpo de Anjo da guarda, Santo
de luz, Papas e Jesus.
Tua água é maldita; já foi corpo de maus da história
e anônimos, Hitler, barba azul, Calígula e Demônios.
III
Tu provocas o aborto, tragas o vivo e vomitas o morto.
A quem te procura; das a serenidade com o sol quente; e atemoriza na noite escura.
Apresentas longos caminhos livres e ocultas as pedras e Icebergs terríveis.
És; o domicílio da sereia que canta e trás amor; do dragão
iracundo
e do tubarão assustador.
Nos dá a onda meiga e suave, a traiçoeiras que afunda a nave.
Tens ondas que banham, afagam, mornas e limpas; suja e frias, fortes e violentas
que afogam.
IV
Aceitas a criança a brincar em tuas águas com a mão; e
a baleia que bate ferida por um arpão.
Tuas ondas que perecem suáveis na areia branca, também debatem
furiosas contra os rochedos que a tranca.
Também devaneia; inspira-me a grandes quimeras, mas também destróis
meus castelos de areia.
Desconheço-te, não sei até onde posso ir, às vezes
me embala com tuas ondas, e do mundo me esqueço, mas também me
espanta violentamente tentando me engolir.
Mar que, sem juros, não cobras um talento, emprestas tua água
para a chuva regar as plantas e saciar os sedentos.
Mar que, com paciência e sem segredos, movimenta tuas ondas para embelezar
as praias e esculpir os rochedos.
Mar que tens a seiva querida, me das a água, fonte da vida, é
implacável e
- um dia vai reclamar.
V
Mar o teu som quase eterno, adentra a meus tímpanos; vezes suáveis
me vejo no céu, outras atemorizantes
- me lembra do inferno.
Mar que ao me ver, por horas a te mirar, sabes que te admiro, tenho medo pois
te pertenço - vai me esperar
Mar que és raso, profundo, limpo, transparente, gélido e imundo.
Mar que fostes à estirpe da vida, tuas ondas espumas branca qual um véu
de noiva trás a vida; e igualmente a leva.
Mar que suscitas a tempestade, tornados, furacões correntes frias, quentes,
taciturnas - estrepitosas e sem piedade.
Mar que formas a maior parte do planeta terra, não reclamas de não
ter nome de água o planeta.
Mar que em tuas películas; gerou o primeiro gameta, sabes que é
o maior
- mas nunca esquece que é formado de pequenas gotículas.
VI
Mar que trazes os pés nas profundezas, quando queres ascende ao mais
alto dos céus - como nuvem e beleza.
Mar no teu leito já improvisei amor, purifiquei minhas feridas, dei banho
na donzela e também despejei minhas lágrimas - chorei minha dor.
Mar em tuas águas flutuei; para abafar meu peso, ficar forte; dei banho
no filho recém nascido e com todos brinquei.
Nas tuas águas assisti a gaivota faminta mergulhar, o sorriso do pescador
sua rede farta tirar.
Vi o rico no iate embarcado, o pescador de anzol, o barquinho miserável
flutuar e "assisti" Titanic sendo tragado.
Aceitas sem reclamar, o adeus do arquimilionário que passeou, o pescador
que trabalhou; não ficas triste - sabe que um dia irão voltar.
VII
Tu que nos dias claros e ardentes, atrai multidões e algazarra, em outros
lugares és ermo e calado e indecente.
Sei que choras quando, em tuas águas aceitas o lixo atômico, esgotos
das cidades e o veneno dos navios que massacram tua divindade.
És paciente, infante, velho e gigante pela própria natureza, manso
e humilde, quando te ferem és terrível - assassino e aterrador.
Nas encosta altas, tens como vizinho; florestas e rochedos, nas praias; prédios,
casas e cabanas de festa e um passarinho.
Sobre tu já escreveram muitos livros, filmes, contos, poemas, aventuras,
tragédias, romances e comédias; aceite mais este em sua enciclopédia.
(Samoel Bianeck)
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