A Garganta da Serpente

Sandra Vaz de Faria

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Maria

A Maria adia a vida,
todo dia a Maria adia,
se dá por satisfeita,
sentindo-se eleita veste a roupa,
de vermelho-escarlate pinta os lábios,
como quem põe uma coroa, põe a touca,
como quem se alegra com o sol, bendiz os raios.
E Maria vai pra rua,
Maria adia o não e se esquiva
de uma outra fria.
Maria comportada, menina.
Maria audaciosa, mulher.

A Maria adia a vida,
se faz de rogada e veste a roupa.
Se dá vadia e corta a garganta,
buscando sorver do medo
um desejo de entender o segredo.

A Maria interpela um viandante apressado,
querendo achar respostas, mas as mesmas não encontra,
pois o tempo é curto e estranhos sempre são estranhos...
Maria pensa: quem socorrerá meus apelos?,
quem não me achará um puro capricho?

Maria despista e seu rosto se transfigura
mais uma vez: sorriso e lágrima,
misturados numa lama que a modelam humana,
mulher feita de pó,
e que um dia ao pó vai voltar,
mas a sophia vai continuar.

Maria sophia que ri de si mesma,
Maria que vê luz no fim-do-túnel,
tal que nunca tem fim
e sempre será uma estrada a ser percorrida por todos,
que na verdade são poucos...

Maria que no mar se completa,
Maria que ali se via de verdade,
sem ter que dar explicações,
sem ter que se mostrar como manual de instruções,
Maria que se cria em visões,
vistas de dentro, de dentro do peito...

Maria que pediu ao mar pra deixar sempre aceso o seu calor.
Maria que ali se encontrou com o seu amor.

Maria que quer a liberdade,
pra enfim ser Maria de verdade!


(Sandra Vaz de Faria)


voltar última atualização: 06/11/2008
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