A Garganta da Serpente

Sávio Damato

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Idiossincrasia plúri

Faço um desaveço às avessas
Tampo com as mãos os olhos, os ouvidos,
Tento estancar a respiração e oprimir o coração
Na expectativa de também não sentir o que dele sai.

O que busco?
Busco isolar-me de mim
Na busca de ver mais além.

Quero que o ponto seja mancha,
Sejam várias as manchas.
E que elas se multipliquem.

Quero que a visão limitada ao ponto
Se dilua e faça parte de tudo.
Quero ver o mundo com os olhos de todos.

Quero me transportar para dentro
De cada criança, velho ou adulto.
Para dentro de cada cego, surdo e mudo.
Não quero ver apenas com olhos perfeitos,
Quero o defeito, o feio, o bruto.

Para ser completo
É preciso se partir em pedaços.
Dez mil são poucos.

Quero ver com os pés e mãos,
Que cada poro seja visão,
Para o mundo me engolir.
Que eu seja mundo.
Os muitos mundos de cada um.


(Sávio Damato)


voltar última atualização: 10/05/2006
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