Uma canção distante
Guardo tuas coisas para uma viagem
(em
que tempo?),
em que vagão viajaremos e as janelas:
abertas pr'uma paisagem verde...!?
Guardo tuas coisas para uma viagem,
(em
que modo?):
no modo presente,
no modo advérbio, passado
passam, passam coisas,
que os meus dedos aos lábios,
de uma mão perfeitamente trêmula,
cantam uma canção distante:
silêncio.
Guardo tuas coisas para uma viagem,
(em
que vontades?):
pois se me fugiram os cavalos meus,
arrebentados todos os trens,
mortos os condutores de todos os carros,
naufragadas todas as jangadas,
e
o mar,
brutalmente
mar,
mesmo
assim,
as
coisas tuas guardadas, fiel
(onde?):
navegar é possível.
(Salvador, tarde leve, 02.08.1996)
(Soares Feitosa)
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