A Garganta da Serpente

Sónia Bettencourt

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viagem a nenhuma parte

é meia-noite ao sol.
é tempo de acabar com a hora, é tempo de partir.
que vazio. que feroz é o suor dos dias.
o cio e a culpa.
dói-me o corpo psicológico.
não pára de transpirar.

quero desfazer-me em nuvens
com um bisturi pontiagudo,
arredondar as formas mais tristes,
triturar a fome e o pensamento.

é veneno da noite em pleno dia,
é auto-flagelação.
quero suicidar-me por umas horas.

suponho que não estou aqui
e penso neste lugar em que já estive
e naquele em que estaria.

regresso então à noitinha
quando a lua der meio-dia.
toca o sino. é tempo de acabar com a hora,
é tempo de partir.

onde está a outra de mim
e que de mim não partiu nem voltou?
continua aqui no mesmo lugar
a enterrar-me no chão suado do mesmo dia.


(Sónia Bettencourt)


voltar última atualização: 24/03/2006
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