A Garganta da Serpente

Tatiane Gorska

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Súplica

Dai-me , Deus:
Uma qualquer fatia de tempo sem uivos, sem lamentações
Uma parte de alma que me falta, arrancada no brado
Dai-me o credo como ungüento para essa minha crença rasgada
e o poente, Senhor, para os joelhos vergados na hora sagrada.

Dai-me, Deus:

Uma tarde plena de borboletas alegres e serenas
Dai-me a palavra desnuda de iniqüidades e sofrimento
Semeia, Senhor, no meu olhar o sossego de lírios dos campos.

Livrai-me, suplico, do clamor dos inocentes e dos que se proscreveram
Do azeite e do vinho vertidos nas catedrais da grande desonra
Dai-me o esquecimento das epístolas flácidas dos padres
De oficio pirotécnico, carnavalesco e enlouquecido.

Poupai-me, Deus,
Da miséria dos vis
Do ventre prenhe da garota de rua
Dos maltrapilhos amontoados nos albergues e refúgios
Das mães da Sé chorando seus descendentes
Do lixo-homem queimando nos pavimentos
de todas as "Isabellas" agonizantes no meu tempo de vida.

Para minha memória, dai-me Deus
A memória mais completa do esquecimento olvidado
E um jardim de pedras, sem flores, sem passos, sem risadas.

Dai-me, senhor, uma noite de repouso:
- Necessito!

(Tatiane Gorska)


voltar última atualização: 09/10/2008
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