A PIN-UP DO MARINHEIRO

Num pôster antigo e oleoso
digno das paredes sujas de graxa
das oficinas mecânicas
o tatuado marinheiro
pintou com a caneta preta
um bigode Burt Reynolds
na lourinha peituda
que lhe exibia nua
uma suculenta boceta cabeluda.

A playmate de uma velha Playboy,
era uma bela morena cor de canela
fotografada de costas
e de quatro
com uma fisionomia lasciva
que nos faria crer que paria um pônei
Ali, sobre aquele escombro do erotismo
o velho homem do mar desenhou
uma piroca plana
com uma esferográfica encarnada
bem em cima da mucosa arregaçada.

Uma neguinha de rabo arrebitado
teve o ânus rosado perfurado
pela brasa de um cigarro.

Numa nissei menor de idade
que arregaçava os grandes lábios da xota
como se quisesse ser vista pelo avesso
nosso garoto travesso
deixou pingos de sêmen
secarem em alto-relevo
denunciando o fim
de uma foda
que nunca teve começo

Diante da ruivinha do mês
o excelente freguês
glamourosamente
se masturbava
provavelmente excitado
pela posse imaginária
daquela genitália dourada

A mão ia e vinha
na caceta aprumada
os pensamentos se alvoroçavam
dentro da cabeça ôca
a musculatura se contraía
e o sistema nervoso concentrado
despedaçava-se à-toa

Alheio aos exuberantes retratos
e sendo sofregamente massageado
a cabeça do pau
daquele navegador dos sete mares
também se masturbava
e entre um pingo e outro do gozo que vomitava
quando o corpo do pênis repousava
comentava o desperdício da gala
citando uma indócil mandala.

"- Meu adorável canalha,
o que me faz crescer
é uma mania de Gulliver
que você adquiriu com a solidão no mar!
Seus prazeres solitários
estão ficando perigosamente diários
tornando-se uma diversão gostosa
e escondendo-lhe uma maldição bizarra!

Sim, meu manobreiro tarado,
enquanto você possui
aquilo que só a sua imaginação pode tocar
dentro de ti se esconde e se perde
o que de melhor você tem para dar...

Cuidado, malandro!
o mar tem lá suas tempestades e marés
e, um dia destes, se quiser,
pode acabar te abandonando
na ilha dos Robinsons Crusoés!

(recitado num sarau na PUC-RJ, 1974)

(Tavinho Paes)