A Garganta da Serpente

Teresa Cristina Soares

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SAUDADE VIRTUAL

Te busco nas páginas amarelas
dos meus sonhos encantados. Quimeras!
Então te busco nas meras entradas do computador:
programados sentidos, sinais sem calor.
Te busco nos chats, nos links de poesia
mas acaba a valentia se o status é de ausência.

Ainda assim te busco, com paciência, nas telas da noite
mas o silêncio - off line - é quase açoite,
impossível de imprimir ou formatar.
Pois meu coração - emotion - busca o teu:
no messenger, será que está lá?
Outro coração, uma flor, um beijo que não prometeu...
e que não posso roubar!

Te busco - search - na internet
em texto que se converte em imagem
mesmo que numa só mensagem romântica
miragem de uma quântica teoria.
Sorria - exibe o ícone feliz!
Mas o que ele de fato me diz
é que não há ninguém que me interpele.
E sob a minha pele, zipado
teu cheiro presente, o gosto atualizado,
editado dos arquivos, das memórias.

Te busco nas nossas histórias, na barra de espaço
nas músicas, nos poemas que faço, que fazes
no jogo - baralho em que faltam ases.
Afeto eletrônico que perde a conexão
e nem meu coração, quase biônico, resiste.

E te busco, Ícaro triste, no teclado
homem alado que se desmancha
e - via cabo - voa quando não ponho a mão.
Te busco em mais um site
mas o que encontro é só mancha:
por um e-mail vai-te, num ponto, noutra opção.
Te busco enfim por outro meio
outro download, em vão.

Em que pasta foi o amor arquivado?
Do monitor cancelado, não cabe no HD
e depois de inserido não pode ser deletado.
Tanto byte recebido e enviado,
tantas páginas de busca...e Cadê?

E de tanto - on line - te buscar
e de não ver-te em nenhum desses espelhos
decido, me salvando, desligar
pois tenho os olhos já mais vermelhos
que as contas do meu colar.

(A última estrofe é uma licença poética, cujo original é de autoria de Jorge Ricardo Dias)


(Teresa Cristina Soares)


voltar última atualização: 20/01/2003
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