A Garganta da Serpente
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LAMENTA O PAI

Lamento não ter pai
Lamento muito por dizer
lamento ainda não ser pai

Atrás da parede
homem mulher e menino
cansados por um só destino
no último degrau do caminho
trocam-se à volta do caixão
todos os quartos de hora
Ora há um coração azul
ou é o teu sangue que bate
ao subir pela mão do pai

Lamento não ter escrito
Lamento muito por saber
lamentar mais, e sempre aos gritos

Vem por minha mãe apertada
mas dorme sozinho à noite
Ninguém sabe onde está
mas dizem-no por aí a dormir
desse sonho frio
Bate à sua porta, diz ele
e corre para o outro lado
Por uma só palavra
dita logo depois de acordar
joga com ele às escondidas
até sair pela mão do pai

Lamento não ser este o fim.
Lamento muito por ainda faltar
lamentar mais um pouco.

Porque um dia, abriu-se a porta
Parece que nunca aconteceu
escuro adentro vai o menino bonito
agarrar a mão do pai
Um beijo
Outro beijo
Terceiro beijo
O rosto de menino
é um beijo do pai

Homem atravessado a direito
nunca foi dado sem primeiro
acabar o que chegou ao fim.


(Tim)


voltar última atualização: 18/03/2010
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