A Garganta da Serpente
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O TALENTO DA DOR

Um diálogo mudo e as impressões guardadas
No frigorífico do silêncio.
Indago por você e um murmúrio insólito
Me diz que se foi,
Que morreu.

Agora sou um indivíduo apontando uma pistola
Pruma árvore ou pro coração
Experimentando a ausência absoluta
Do mar ser cor
Desmontando o artifício da contemplação.

Então sorrio como um autômato,
Um doente eletrônico
Isolado dentro
Querendo detalhes do texto,
Precisando apreender o conflito.

Me afogo no mar
Ou me amarro á proa?
Cultivo jacintos para dissimular
A idéia de alegria
Ou faço parte do bando?

Cruzo com o homem de olhos
De mil compartimentos
-Um para cada desejo -
que mais tarde confessará
as intenções vulgares.

Vou buscar o manto
Que cobrirá o peito
Afastando a sombra do destino.
Vou buscar o chá, a água morna,
O gelo na garganta.
Sem poema, sem sussurro,
Um migrante na poeira,
Destituído da língua.

Sou a voz que narrará
Como desolados ficamos:
A lua tonta, o sol insosso,
O corpo em labirinto.

Então compreenderás esse gesto brusco
De desordem e desespero.


(Tom)


voltar última atualização: 07/08/2007
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