A Garganta da Serpente

Tonhell

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Uma voz

N' uma sexta-feira, hora e dia
De um meio-dia que ardia,
Eu quase dormindo de enfado ministrado
Por leituras que descrevem o meu estado
Refletindo n'uma teoria incompleta,
Ia dormindo, de repente algo me desperta
Meus ouvidos captam um som de muito perto
E comigo disse eu convencido:
"são os galhos da laranjeira de certo,
Que estalam ao sol por estarem ressequidos."

Foi há meses, doze meses,
Durante um ano lembrei por vezes
Era um dia quente com ar abafado
Tudo implorava chuva ao sol calcinado
Sofrendo o castigo da estação verão
Eu, procurando refúgio lendo publicação
Tudo em vão! Minha sina era sentir
A dor e o calor desmedido
Ao orar por anjos azuis que no céu chamam zefir
A nos soprar um vento agreste que nos torne comedido

E o murmúrio pairava sobre esses cantos
Roubando-me a atenção e o acalanto
Meu olhar tornou-se amplo e apreensivo
A buscar o que os sentidos deixaram ativo
Ocupei-me a caminhar e esquadrinhar tais paragens
Logo disse: "quem estará na paisagem?
Um invasor querendo fuga
Por encontrar-se aqui perdido
E se por um covarde ele me julga
Ficará por muito arrependido."

Ando em meio às folhagens
Que decoram o chão da paisagem
Brado: "quem quer que seja-menino ou homem-
Nesses terrenos não se escondem
Nada que eu não possa ver e ouvir
Foram descobertos seus rumores apouco
É hora agora de se revelares
Para que não recaia sobre ti ato incompreendido
Ou então fique incauto, se assim melhor julgares."
Nada vejo nada, e nada me passa despercebido.

Um silêncio terrível me arrepia os ossos
Tremendo-me o corpo aniquilando o ócio
Meu pensamento agora é outro
Não desejo ter mais tal encontro
Em encontrar o desconhecido vil e calado
Almejo retorna ao seio que me espera abrigado
A amiga desse recanto afastado
O pensamento em ti deixara-me contido
A regressar desse âmbito desvairado
Em redimir de mim o erro cometido

Volto os passos em direção a casa
E em trinta passos encontrarei morada
Ando um pouco então escuto: "o que seria?
Obra do vento que agora se sentia
Não, não parecia o vento, o que seria?
Retorno a vista a perscrutar e nada havia
Em retirada devo isso fazer depressa
O coração já se encontra comprimido
Esse ruído tenebroso que não cessa
Modificando meu semblante confrangido

Pondo-me a caminhar em direção desejada
Onde minha alma repousará despreocupada
Eis que o som se torna evidente
Gelando-me o sangue, me perturbando a mente
Uma voz, um trovão, um estrondo. Parecia que
Iria de súbito qual relâmpago me reter
Dessa terra onde me encontro ajoelhado
Onde a força das pernas se encontra desprovido
E o coração descompassado encontra-se apavorado
Falei: "Serei presa fácil serei sucumbido"

E diante da imensidão do nada que me cerca
Do chão de terra seca
Espero outra pronuncia da voz que me fala
O que falará? Arpões que no meu peito fincará
Eu disse: "donde sois, voz agreste, que me assombra
O que me diz certamente amedronta
Queres revelar-me algo d'outro mundo
Das trevas que habitam o mal indefinido
Onde nada se constrói e sim destruído?"
E a voz respondeu? "É sabido."

Acreditando indubitavelmente no que ouvia
Fiquei de pé para entender o que acontecia
Perplexo fico ao ouvir tal resposta
Mesmo com tanta dor, que ainda me é imposta
Meu rosto treme descompassado
Com o som da voz pronunciado
Olho para cima e não vejo nada alem do céu
Só a voz que ao longe fica reprimindo
E eu sem saber realmente o que aconteceu
Ouço a voz gritar: já é sabido!

_ O que julgas ser sabido voz infernal
Meus pecados relevantes, alguma obra triunfal
Quem sois vós, Deus ou o diabo
Que me impõe o inesperado
De falar-me por enigmas de uma frase positiva
Em relação ao futuro ou passado
Sobre bem ou mal que testifica
O que me deves realmente ser compreendido
Voz que me acompanha por toda a vida?
E ao longe responde: ficou sabido!

Então se afastando a voz por completo
Para âmbitos que não sei ao certo
Onde repousa o infinito
Pois agora o som já não pode ser ouvido
Pergunto-me sobre o que me revelou o estrondo
Minha vida não é mais um segredo
Visto a voz mostra-me a face num espelho
Que ecoa sobre as vidas depois de mim
Que revelou a paz no meu peito desprovido
Com uma frase que ainda dói nos meus ouvidos
Uma calunia uma verdade sobre mim desconhecido
Que a voz nessas paragens deixou ficar sabido.


(Tonhell)


voltar última atualização: 24/08/2010
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