A Garganta da Serpente

Ubirajara Sá

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Calmaria

O vento, fiel amigo, parou de soprar
A vela, em riste, murchou
Já não brilhava mais ao luar
Calmo o tempo, desassossego e pavor
A água batia nos pés
O saveiro, pesado, água no convés.

As luzes mornas que vinham da ilha
Distantes refletiam n'água do oceano
O saveiro, plano, quieto o pano
Parado e calmo e sem trilha
Às tontas estava o leme
Ao peso no barco, a madeira geme.

Passageiros e carga, todos quietos
Ao longe se via o Lacerda; e eu mudo
Tudo me fazia sem tino, sem teto
O frio da madrugada; eu carrancudo
Só uma criança a bordo
Só uma ilha a bombordo.

O saveiro saíra de Acupe bem cedo
Navegava a todo pano, feliz por navegar
Já caia a noite, o pânico, o medo
Segredo que só os tripulantes sabem contar
Acreditam na sorte, cantam pra Iemanjá
Cantam, baixinho, pro vento soprar.

O sol sai, de mansinho, clareando o céu
É hora de navegar, já é hora de se ir
Iemanjá, em segredo, estende o seu véu
O vento tardio se alevanta, canta e ri
Felizes, mar, vento, tripulantes e eu
Humaitá nos vê, e nos dá adeus.


(Ubirajara Sá)


voltar última atualização: 03/08/2010
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