A Garganta da Serpente
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TUDO E NADA

Quero tudo e nada quero ao lado seu.

Que sejamos benditos
pelas graças dos céus e das terras,
ou que sigamos amaldiçoados
pelo insensível mundo dos homens.

Que arranquemos nossas roupas
com a absurda urgência da pele,
ou que permaneçamos mudos, lado a lado,
mutuamente afundados numa paz comum.

Que andemos de mãos dadas num tempo inexistente,
feito de fugazes agoras,
ou que tergiversemos para melhor ver
as mágoas acumuladas numa rua contramão.

Que nos toquemos de olhos fechados,
buscando a essência conhecida e amplificada de cada um,
ou que nos fitemos longamente,
tentando nos reconhecer no fundo de nossos olhares cansados.

Que relembremos alegremente os momentos ao longe,
soprando as brumas que os envolvem,
ou que cubramos o passado com um véu mágico,
estreando de fato um tempo novo em folha.

Que provemos de tudo, rápida e ardentemente,
tentando recuperar o tempo perdido na distância entre nós,
ou que flutuemos vagarosamente sobre os dias,
com o discernimento dos que sabem esperar.

Quero tudo e quero nada ao lado seu,
mas quero o seu lado vago na medida da minha alma:
quero de volta o espaço que por direito me pertence,
mas de que, por um lapso, um dia abri mão.<


(Vany)


voltar última atualização: 11/12/2007
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