A Garganta da Serpente

Willian Delarte

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Solar

Esquecido no Saco do Mundo
- Inverno, solstício do sono Funfun -
indagava se haveria vida após a criação,
se um dilúculo resplandeceria
no abrir dos olhos de Obatalá.

Imerso no vinho,
o Sol dormia um sono de mil noites,
Ifá tecia a colméia do meu destino...

Orixalá, ´inda menino,
como esperma virgem e límpido,
era terra - eu também era só terra com sede de mar

O saco foi roubado -
meu destino se fazia no furto
e na quizila do álcool.

Arrancado do saco do Mundo
- Verão, solstício do Grande Meio-dia -
vi meu corpo modelado no barro e na espada de Oxaguian.

Era puro sangue, mais sangue que terra.
Era puro álcool, mais álcool que terra.
Era Exu me banhando de dendê, pimenta e sal.

Uma pomba branca, desenhando o Céu,
gritava em azul:
"É mojubá, é mojubá"

Três galos pretos bicaram meu fígado.
Do sangue verde, pincelado na Terra,
fez-se um nome de saudação:
"Êpa Babá!"

Era o cajado de Oxalufan
contornando o mar, erigindo continentes...

O Sol, pétala no pulso de Oxalá,
encheu de ar os pulmões de Olorum:
insuflei-me de coragem...

Desde então, o equinócio do meu destino
fora travado entre o cajado e a espada,

e para controlar o véu de Exu nas veias,
Ogum derramou cerveja,
fazendo dessa, espumas no mar.


(Willian Delarte)


voltar última atualização: 08/02/2011
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