A Garganta da Serpente

Wilson R.

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

O CAMINHO

Caminhei.
Fui até onde consegui e além.
Mesmo quando o caminho acabou
eu continuei a andar sem nunca pensar em parar.

Ainda me lembro da companhia que me fascinava.
O lindo sorriso em seu rosto, que os meus dias enfeitava,
era uma paisagem sagrada
que enchia de alegria minha estrada.

No caminha havia esperança,
havia amor,
e eu tinha a fé.

É...
por você eu tinha fé em minha jornada.
Mesmo sem nunca ter acreditado em nada - santo, amigo ou namorada.
Talvez eu nem tenha fé em Deus!
Mas eu a tinha nos caminhos meus.
Caminhos que também eram seus.

Ao caminhar, mesmo no escuro e na dor,
eu via luz e sentia calor.
Mesmo quando a chama se apagava,
eu buscava fogo em meu coração e encontrava.
Dava pra nós dois - até sobrava.

No trajeto interminável
não havia obstáculo insuperável.
Minha rota era precisa e implacável.

Mas você a fazia instável.
Você a tornava diferente, depois igual,
a transformava num sonho, depois a fazia real.

Na estrada, nada se interpunha entre mim e meu destino.
Eu tinha força de homem e disposição de menino.
A tudo suportava com amor - destruía a maldade, ignorava a dor.
Tolerava os desvios e as mazelas.
Sanava as feridas e suportava as seqüelas.

Mas...
Mas o tempo foi cobrando seu preço, reconheço.
Não consegui.
Não mais agüentei e desisti.

Cansado, fui vencido, derrotado.
Ainda sinto por ter falhado.
Algo deu errado, apesar de eu ter caminhado com tanto cuidado.

Hoje admito, finalmente.
Pela estrada lhe perdi, infelizmente.
A vulgaridade venceu e o amor perdeu.
Minha vontade de prosseguir esmoreceu.

Talvez eu tenha sido apressado, no afã de ser amado.
Mas não devo ser julgado - já está consumado.

Parado na estrada, observo o caminho já trilhado.
Noto que, algumas vezes, ao caminhar andei errado.
Não devia, por tanto tempo, no mesmo caminho insistir.
Escrever para olhos que não queriam ver,
compor para ouvidos que não queriam ouvir,
cantar para uma alma que não sente,
acompanhar alguém ausente.

Agora...
agora a estrada é passado.
Não vou esquece-la, mas o cansaço já é superado.
Estou triste por perder, mas feliz por ter tentado,
afinal, melhor cansar da viagem que nunca ter caminhado.

Apesar de tudo,
foi muito bom ter lhe amado.

Hoje,
parece que faz uma eternidade.
Foi bem difícil, é verdade.
Quando lembro da antiga caminhada, a saudade dá pontada.

Mas a vida é grande viagem
e novo caminho será trilhado.
Muitas dores virão,
me cansarão,
e logo também serão passado.

Apenas o amor,
fiel companheiro e aliado,
cúmplice eterno,
caminha para sempre ao meu lado.


(Wilson R.)


voltar última atualização: 26/04/2005
7673 visitas desde 01/07/2005
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente