Escrevo por não conseguir chorar
Me engasgo com a fragilidade de minha dor
Dura esponja de pedra
Pétala de pele descascada
Suor estranho retido no poço profundo
Onde me encontro nu
Anômalo anfíbio
Respirando de boca aberta
Sou estar-sofrendo prisões de instantes
Confusamente dispostos
Calo em silêncios escuros
Puros como a ausência de vida
Para de repente acontecer na convulsão do verso
Gritando alto
Em vômitos somáticos
Exalando gestos como quem nasce de repente
Forçado a devorar a lentidão dos meus órgãos
Um mundo urgente me faz arder
Aconteço na pancada da síncope
Alavancando toneladas de desejos em flor
Contra a parede esmago espontaneamente os medos
Rasgo com lágrimas em forma de impulso
As respostas sobre eternos segredos que não dizem nada
Mas continuam sendo segredos
Sobre o que fui em repouso:
Um ser semimorto
Escrevo por não ter medo
De me acusar
Se estou sendo causado por mistérios
Não importa
Sou um servo meu
Um meu eu
Escrevo e vivo
Tenho estado sob estas pressões
Estou sendo isto e nada mais
(Zadig)
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