O enforcado
A corda morde o pano da goela
Amordaça a língua
(Sob necessidade de tensão e desafio)
O pescoço frouxo de frango depenado
Sustenta a gravidade letárgica do corpo
Em não engolir o cuspe ferve os dentes
Entre o estouro e o sono mais desfalecido
O vulcão ruge dentro do globo
Os pés dançam em cima de suas pontas
Como bailarinos
Evitando o cansaço da força que os sufoca
O cinto arrocha os sacos alveolares
Prende o ofegar mais pontiagudo
Infla a bolsa que dilata o alívio mais largo do tronco
Raios se contorcem em emitir um ruído
Na aspereza da corda as costas da língua colam
O freio treme e quanto mais aperta o suor desce
Mais a garganta cede
Engasgada pelos cabelos duros da tosse
No último suspiro o rosto fica roxo
A bexiga sobe abrupta até o teto
Onde o ar é ralo
A corda enverga a haste nervosa
Deixando a marca ferida na crosta enrugada
A língua cansada se desenrola
O soro vaza intumescendo elásticos
Que se contraem em espasmos
No ventre vibram espaços surdos
Relaxa o músculo do cio
Murcham as inchações da câmara encharcada
Onde o pensamento busca a brecha desesperada
De escapar até o último instante
Do êxtase de se afogar
Num oceano de lâminas inflamadas
(Zadig)
|