QUERO
Quero ser ridículo e ficar perdido,
sem rumo, além da vida terrena.
Quero que o pó que há mim calcificado se esparja.
Quero mais, mentir, sentir na vida o canto da falácia,
o desejo irrefreável, a tesão incontida.
Não quero cânticos na minha morte,
não quero excelsas barrocas, gregorianas.
quero sentir o uivo gutural,
o cheiro da pele no contato carnal.
E se um dia o sonho me faltar
eu quero a vida de volta.
Todas as tristezas, as verdades,
alvoradas que me garantam
um entardecer lúgubre.
Por fim,
um amanhecer calmo como a morte
e a luz difusa do sol saindo
da escuridão da noite.
(Zé da Lua)
|