O que poderá ser chamado de real velhice? É quando
nossa saúde ou simplesmente o peso dos anos não nos permite uma
atividade como tínhamos antes. Não existe idade pré-estabelecida
para essa real velhice. É simplesmente quando nosso organismo
não reage mais às ordens que o cérebro também já
não é mais capaz de dar.
Algo em que todos nós, crianças, jovens, adolescentes, maduros,
idosos ou envelhescentes, temos que pensar, é quando chegar a real velhice,
ou seja, quando atingirmos aquela fase da vida em que a infância volta
em sua plenitude, e voltamos a ter as mesmas necessidades que tínhamos
quando recém nascidos.
Realmente, são duas fases da vida com semelhanças incríveis,
ou seja, quando somos recém-nascidos, ou quando somos pré-falecidos.
Sim, porque são aquelas fases em que nossa dependência é
total e completa. Não somos capazes de viver por nossos meios.
Para uma simples locomoção precisamos de ajuda. Necessitamos de
alguém que nos limpe. Voltamos a usar fraldas, agora chamadas eufemisticamente
de geriátricas, mas sempre fraldas para que nossas sujeiras não
se espalhem pela casa.
No princípio da vida, todos se ocupam conosco. Somos lindinhos. Nossas
bochechas são constante e doloridamente apertadas.
Todos se preocupam conosco, com nosso futuro. Ajudam-nos a dar os primeiros
passos, e ficam felizes da vida adorando aqueles tropeções e,
às nossas quedas, correm para nos socorrer, enchendo-nos de mimos e vibrando
com os sucessos dos primeiros passos, e cheios de planos para nosso futuro.
Depois, vem a outra e triste face da moeda. Somos incomodativos, nossa companhia
passa a ser indesejável, e nossas bochechas são deixadas em paz.
Ninguém se preocupa com nossos últimos passos, e muitas vezes
somos largados em uma cadeira ou mesmo na cama, porque é mais confortável
ficar assim.
Muitas vezes, somos abandonados em asilos onde poderemos ser mais bem
cuidados, porque não existe tempo para nós. Essa é
a triste realidade que poderemos enfrentar quando a real velhice chegar.
Quando tudo aquilo que fizemos no passado para o bem estar de nossa família
é sumariamente esquecido, pois, conforme alegam, apenas cumprimos
com nossa obrigação.
Não seria igualmente obrigação deles retribuir o que fizemos,
dando-nos o mesmo carinho e atenção que lhes demos quando eram
crianças?
Há que se notar que mesmo quando atingimos a idosidade, ainda continuamos
a dar uma força enorme para todos. Claro que estaremos sempre fazendo
algo pela família enquanto forças tivermos. E depois? É
justo esse abandono total e completo? É justo sermos ignorados, precisamente
no momento em que mais necessitamos da mesma mão forte que sempre oferecemos?
Nem sempre o quadro é tão triste. Existem muitos casos em que
existe esse reconhecimento, e todo o carinho que os reais velhos
necessitam é oferecido pelos descendentes. Ocorre que deveria ser uma
regra geral.
Se estamos vivos hoje, é porque fomos bem cuidados pelos que agora deveremos
cuidar.
A idade nos faz viver de recordações. De lembranças, de
como fomos, de nossas atividades, e claro, isso sempre traz uma grande melancolia
quando nos descobrimos incapazes de fazer aquelas mesmas coisas que fazíamos
antes.
E mais tristes ainda ficamos, quando somos cobrados por não sermos mais
capazes de dar aquele apoio, e passamos a necessitar de muita compreensão,
amparo e, principalmente, carinho.
Ao olharmos nossos velhos, não poderemos jamais reclamar
do trabalho que nos dão, dos cuidados que requerem, pois não poderemos
nos esquecer de que lá chegaremos, e poderemos receber o mesmo que ora
damos.
Enquanto refletimos sobre esse pormenor, podemos ter UM LINDO DIA.