A Garganta da Serpente
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Fantasmas não existem

(Eliane Rubim)

Essa semana aprendi algo muito importante - que a nossa sujeira exterior não fede mais que os vermes que devoram nossa alma.

Caminhava, só, pela rua e como sempre estava desligada dos zumbis que por mim cruzavam. Zumbis com a engrenagem enferrujada, já não há mais dinheiro para comprar o óleo, já não há mais remédio que alivie a dor dessa sociedade.

Um desses zumbis, em certo instante, largou uma moeda em direção a um canto escuro. É nos cantos que se encontram os restos, e naquele canto estava a sujeira exposta da sociedade, a causa de náuseas dos seres limpos.

Sua sujeira e escuridão é vista por muitos com medo, rejeição. Seus olhos fulminam na sombra, e agradece sempre àqueles que lhe 'ajudam' com um sorriso de dentes podres.

Sem muito rodeio o pergunto diretamente o que apenas ele poderia me responder ¿ Como te sentes estando só?

De certa forma perguntei aquilo como uma forma de compartilhar o que sentia, enfim, era só isso o que tinha para compartilhar. Ele me disse que não estava só, eu estava com ele. 'E mesmo quando estou só, me sinto bem, de certa forma não fui excluído, acabei por me excluir, não sirvo para fazer parte do limpo.'

Depois de ouvir aquela fala utópica, sentei-me ao seu lado, e sentia o sistema cheirar a podre a cada moeda que caia em seus pés. Pedi a ele um abraço e perguntei se um dia gostaria de ser 'limpo'. Ele simplesmente me olhou e sorriu banguela.

E como um fantasma retornei a vagar, e como um fantasma voei alto e procurei a solidão. E como um fantasma nada disso aconteceu. Fantasmas não existem.

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