A Garganta da Serpente
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Na cama

(Simone Malaguti)

Inesperadamente após alguns meses de encontros, muitas conversas intelectuais e esperas - secretas, tensas, duvidosas - os dois estão a sós, na casa dele. Na cama dele. Agora ali naquela "arena" não há uma tela de cinema e nem uma mesa de bar a distraí-los. Menos provavelmente deverá surgir uma conversa sobre um filme, sobre a política, a literatura, viagens... Não vão dialogar, nem trocar ideias. Encontram-se a sós, sem as palavras, sem as frases; e estão nus; sem uma peça a cobrir-lhes o que ainda tentavam esconder um do outro e de si mesmos: o corpo e a carne; a parte mais autêntica que têm, a porção que é o complemento de um para o outro, para ele, homem e, para ela, mulher. Nesse local acontecerá o verdadeiro encontro. E é aqui que arriscarão ser para além das palavras, dos discursos e das imagens. Vão ser malvados, aos poucos, um com o outro para vadiar cada um a seu modo, no corpo do outro, em zonas seguras, onde o sangue circula pulsando, pulsando. Vão mudar os gestos, as feições, os olhares, os toques. Como números circenses, em movimentos sapecas; vão se castigar um pouco, como castiga o domador sua fera, com um chicotinho. Intrusos um do outro, dissolutos, soltas, saltos, sussurros, soluços, afagos, suor, odor, olhos, dor - um pouco -, apetite, gana, gula, pés, pulsos, braços. Uma ação, uma pulsão de dentro para fora, de fora para dentro que os deixa fora de si mesmos.

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