Eram lençóis revoltos, cor de salmão. Entre eles, uma
conta graúda solta de um colar de pérolas. Ali, um casal dormiu
ontem à noite. Ali se amaram. Ela, esguia, branca muito branca, de pernas
longas, bem longas e cabelos pretos curtos, bem curtos, quase raspados. Ele,
muito alto, corpo e feições bem feitos e fortes. Parecem ter saído
de um comics super moderno. Vão se reencontrar, um dia, não sabem
quando, onde e como. Mas, se reencontrarão. Manter esse espaço
(des)continuo entre eles, essa (in)comunicação, uma tradução
da incógnita cruel, mas vital para sobrevivência humana (afetiva
?). Será um otimismo incurável ? Uma esperança boba ? Talvez.
Mas, era isso que esse homem e essa mulher carregam em seus corações;
e, era isso que os faziam acreditar que os relacionamentos ainda são
possíveis.