Era fim de noite num bar boêmio, tradicional. Sentia-me uma dama. Eu,
linda, de rosa e preto; boca brilhante, olhos brilhantes, pele brilhante: eu
reluzia. E você, você também me iluminava com teu olhar.
Eu, bela como sempre, me contorcia por dentro: era a trapezista do circo, com
maiô de organza, bordado com estrás e lantejoulas, delicadamente soltando
pontos luminosos para quem observa... a trapezista com maiô de organza com asas
de anjos costuradas nas costas; a trapezista balançando, se jogando de
uma corda para outra, se enroscando na barra, pende com as pernas, levanta os
braços, rodopia e acena, e os cabelos esvoaçantes... A trapezista
se contorce.
É quando o desejo me lança para você... o desejo me arremessa
assim e faz de mim trapezista.
Éramos eu, você e o desejo, trapezista, nesse bar boêmio,
fim de noite.