Sobre aclastos e acídios
Despedir-me-ei do amor, do amor me despirei.
Em disparada quero partir, mas meus pés
resistem à minha imposição
O amor esqueço, todo amor que resta escrevo
Em cartas, poemas, testamentos, panfletos
E lá os deixo, tão longe
Que nenhum impávido pedido de socorro
Tenha eu que suportar
Esquecer-me-ei das declarações,
As promessas são apenas desejo,
Falta que faz uma vida sem imposição
Platão faz jantar. Os pratos, as cadeiras estão vazias.
Sobre a mesa ensaiamos peça, nossa peça
E a poesia que nos aclaustra
Do banheiro, este cheiro de merda segue a equilibrar
A balança de nossas vidas - é a única morte que resta.
Guernica jaz sobre a parede, como eu, empoeirada.
Um dia procurei no mar a imensidão do amor.
Revirei cada concha, cada pedra, cada pedaço de rocha
Mas as conchas estavam vazias, e sob estas pedras
Mais pesadas que os livros do mundo, havia apenas lama e nada
Despedir-me-ei das palavras, abafarei qualquer suplicio.
Despedaçarei espelhos. Suplicarei espaço onde estas asas
Possam voar. Far-me-ei mosca chata e me perderei no ar
E nesse processo louco de humanificação vivo,
Vida amarga e dor dispersa, essa distância infinita.
É que às vezes os sonhos se tornam verdade,
Mas são apenas sonhos e, em verdade,
quanto valem estas Gestalts?!
Duvidamos então que este frio seja ausência
E cremos dissolvermo-nos em solidão.
(Floriano-PI, 23 de julho de 2009)
(Manoel Guedes de Almeida)
|