A Garganta da Serpente

Manoel Guedes de Almeida

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Ontem/Além - Lênin

Falta.
Sinto falta dos teus beijos breves, do teu hálito de manhã
De teu vestido-musgo, de teu sorriso estranho
De teu olhar sem jeito sinto falta.
Sinto falta das promessas, das declarações de amor pra vida inteira
Das fugas, dos filmes à noitinha, das fotos,
das frases sinto falta. Tantos fatos...


não há mais fatos no mundo. O mundo é o agora
e o agora são faces e tempo e muito. Tudo é hipérbole
e não há mais espaço no mundo - o mundo é pequeno


Passaram-se os dias. Os amores também passaram.
Passaram-se os objetivos, a garra, o grito sem explicação, o fastio
                                [o rosto sem barba, as mãos sem rugas
A coragem, a esperança também passou... e sinto falta


Faço poemas, leio jornais.


Os homens inda protestam, cantam e se escondem


nas tavernas de copo na mão; levantam bandeiras,
cercas eletrificadas, armas...São todos metade, são todos semi.
A vida ainda é náusea;


Cá, falta inda sinto das tuas mãos nas minhas,
dos teus braços e abraços nos meus
                                [de teus lábios que inspiravam poemas diferentes deste - ferida.
do perfume nas cartas, da troca de alianças, das tímidas mãos que se enlaçavam.
da laranjeira no quintal; do vaso de flores vazio. Dos cactos.
Da tua face doce no sal da minha face...
da filosofia ao pé da "Lareira de Sonhos Impossíveis"...

(Teresina-PI, terça-feira, 24 de março de 2009)


(Manoel Guedes de Almeida)


voltar última atualização: 01/09/2009
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