A Garganta da Serpente

Thais Dornelles

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Ovelha Colorida

Que motivos?
De onde vem esse pavor em me ver bem?
Se eu tenho pernas e ando pela escadaria escura
E sorrio mesmo assim
Se eu aplaudo o desafio e tento abraçar o mundo
Que rejeitas...
Não, não sou igual
E nem tão diferente
Não sou tão ruim e nem serei a salvadora
Pretendo, honestamente, sobreviver
Não, não quero culpados
Nem quero eterno acerto
Honestamente, prefiro tentar
Não, não sou teu espelho
Não veja em mim teus fracassos
E nem os cristos da tua vida
Não quero cruz alguma
Se é isso que tens aí para me dar
Saibas que meus gritos são de rejeição
NÃO QUERO!
Não me cutuque, não me coloque coroas de espinhos
Existem atos e não loucuras
Existem reações de ti e não loucura
Não me coloque coroa de ouro
NÃO ME PROJETE!
Não, não quero ser teu sonho
Nem quero ser o que não foste
Se sou, não é intencional.
É porque sou!
Não me adapte as tuas maneiras
E nem me peça compreensão do teu silêncio
Se nem tu o suporta
Porque eu devo gostar de ti se nem tu te gostas?
NÃO ME MOLDE!
Não, não quero sonhar o tempo inteiro
Mas se um dia eu quiser viver uma fantasia
ME DEIXE!
Não, não sou a culpada da tua falta de perspectivas na vida
E nem quero ser a única que te distrai
A única que te faz sorrir, chorar, ter pesadelos e sonhar, VIVER
Não, não quero saber de tudo
Se ainda sou inocente, tão bom ser criança
O tempo te fez adulto e não eu!
Meu coração pulsa intensamente
Eu não fiz nada pro teu bater lentamente
E nem faço nada que o faz acelerar
não quero ser teu medo, tua flor preciosa de um jardim morto
não, não quero teu abraço
NÃO ME SUFOQUE!
Olha, se terei de ser o que não sou
Nasci atriz
E nasci da tua própria imaginação
Se queres criar um demônio
para acalmar tua solidão
NÃO SOU DEMÔNIO!
Nem sou santa, talvez eu seja apenas normal
Apenas o reflexo da tua loucura!
Apenas reflexo do mundo que me apresentaste
Apenas o que és e que já não podes mais ser
Se tu te rendeste a sociedade podre
E a convenceu que és normal
NÃO ME ENGANE
Eu sei o disparo do teu peito
Eu escuto teu choro na escuridão
Eu vejo tua alucinação diariamente
Não, não sou teu quadro
E nem estou em branco
NÃO ME APAGUE!
NÃO ME PAGUE!
Não me veja como solução
Nem me espere porque não volto
Se não quiser voltar!
Não entendeste ainda que não encontraras tua cura nos livros?
Porque me antagonizar nessa tua história sem nexo?
Não vês que a doença está nas tuas veias corretas?
Sou forte, mais forte que a genética
Tenho teu sangue, comi tua loucura e sigo sã
Se o mundo te visse como és...
Ah, se o mundo sorrisse para mim como te sorriu sempre
Sempre fugi, sempre andei em becos
Sempre escuro, sempre escutei a dor, sempre, sempre, sempre , sempre
E tu, que foste criação do amor, do bom senso,
Tu que tiveste uma estrada iluminada, que respiraste um ar puro
Ora, se eu sou pura, se colori o céu que me foi dado
E canto uma vida triste
Se colecionei as pedradas que levei
Uma por uma, todas guardadas numa alma que devia ser perturbada
Mas não é!
Sabes o que sou?
Sou a filha da morte que não quer morrer!
Sou o anjo que nunca esteve no paraíso!
Eu não fiz nada disso,
Saiba, ouça meu grito
OUÇA MEU GRITO PORQUE NÃO OUVES MAIS NADA
POR ISSO PRECISAS DELE
PORQUE NÃO AMAS, NEM VÊ AMOR NAS FLORES
E EU O VEJO EM TUDO!
Sinceramente, tu não me convences mais!
Não sou a imagem que desenhaste numa calçada suja
Não aceito mais levar cuspidas na cara da própria loucura
Há um vão
Mas já não quero mais o lado podre
Em mim, não há buracos
Em mim não há espaços
Preenche teu vazio, tua solidão
E saia do meu trono!
Saia!
Não sou a página de ponta cabeça
Tu que és o desencontro o desapontamento
O arrependimento, o desgosto, o imposto, o pronto, o esgoto
O medo, a tortura, UM PRIVILEGIO
Tu que és!
E eu não sou um remédio pro teu tédio!
Nem um assunto pras tuas bebedeiras
Nem teu motivo
E se queres saber, tenho mais o que falar
Tenho muito, talvez
Mas honestamente é perda de tempo
Não vou te mudar nem vais me mudar
Não há solução que una dois planetas
O que vives, que é de fogo e queima tudo e te queima o tempo todo
E o meu que tem fogo só quando é necessário!
As máscaras caíram bem em frente aos meus pés
E hoje vou chorar só porque minha camuflagem se foi
Não sou louca, teu deus sabe que não
Tu sabes que não!
Ah, doce família minha,
Vulcão adormecido, vulcão desanimado, vulcão que só explode pra (tentar) me destruir
Vulcão de injustiças que toma a minha vida e tenta me rotular
NÃO ME ROTULEM NAS BULAS DOS ANTIANCIOLÍTICOS QUE VOCÊS DEVERIAM TOMAR!
Minhas ânsia é de viver, VIVER VIVER VIVER!
Esqueceram que sou imune ao fogo?
nasci dele
Perdão se não me derreti como o esperado!
Perdão se modifiquei o roteiro que me foi dado
Perdão se vomitei diante de ti toda as angústias que tens!
E se elas não me dominaram!

AFE!
Ainda bem que sou essa ovelha dessa outra cor
Ainda bem que sou AMOR,AMOR E AMOR!


(Thais Dornelles)


voltar última atualização: 15/03/2010
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