Ontem dia 26 de dezembro, que procede ao Dia de Natal, voltávamos meu
marido e eu do Restaurante onde fôramos almoçar e sentimos a calma
desse dia depois de tantas efusões e excitamentos que apreciamos nos
dias anteriores à data máxima da cristandade.
Respiramos paz e sossego, com o movimento relativamente pequeno de carros e
pessoas. É estranho esse dia que vem depois. Sempre o analisei mesmo
nos tempos áureos de minha adolescência e juventude. E sempre me
parecia esquisito depois do barulho estarrecedor.
Com o passar do tempo fui compreendendo mais ainda o quanto o comércio
é o responsável por essa data tão bonita, mas cada vez
mais transformada em troca de votos que se esvaem apenas com um dia de sua concretização.
Parece que todos se acalmam depois de extravasar momentos lúdicos em
compras de presentes, festas ruidosas, votos de feliz natal e esperam ano novo
que novamente transformará as ruas em luz efervescente e ilusória.
Foi nesse rumo de pensamentos que paramos num sinal relativamente perto de nossa
casa e pudemos ver de repente um rapaz numa cadeira de rodas com um dos sorrisos
mais bonitos que já víramos. Ele pedia auxílio, porém
não deixava de se dirigir às pessoas que estavam nos carros em
fila, com uma simpatia difícil de encontrar numa pessoa que vive tão
tristemente.
O rapaz a que me referi mostrava várias falhas nos dentes da frente superiores
e inferiores, mas isso não tirava a sinceridade e beleza daquele sorriso,
que nos emocionou em igual proporção. Não era um esgar
como às vezes observamos em certas pessoas que riem apenas exteriormente,
mas vinha de dentro como uma luz verdadeira.
O jovem parou perto do nosso carro e pudemos conversar durante alguns instantes,
o que mais aumentou sua expressão diferente e emocionante. Ao mesmo tempo
ele já de longe falou que nossa presença tinha "levantado"
seu espírito.
Não sabemos explicar o que aconteceu conosco naquele momento, mas sua
figura simpática não saiu de nosso pensamento durante toda a tarde
e conversamos várias vezes sobre o rapaz.
Gostaríamos de encontrá-lo novamente e pudermos ajudá-lo
no sentido lato da palavra e se Deus quiser nos proporcionará essa alegria.
Gostaríamos muito. Isso é que é empatia, mas uma empatia
proveniente de sua figura humilde e carismática que não precisava
nem dos dentes completos para iluminar o rosto sofrido.
Achei interessante relatar esse acontecimento que tanto nos emocionou e espero
realmente vê-lo mais uma vez para que possamos ressarcir o bem que nos
fez.