Certo dia uma águia olhou para baixo, do alto do seu ninho, e viu uma
coruja.
- Que estranho animal! - pensou consigo mesma. Certamente não se trata
de um pássaro.
Movida pela curiosidade, abriu suas grandes asas e pôs-se a descer voando
em círculos.
Ao aproximar-se da coruja perguntou:
- Quem é você? Como é seu nome?
- Sou a coruja - respondeu o pobre pássaro em voz trêmula, tentando
esconder-se atrás de um galho.
- Há, há! Como você é ridícula! - riu a águia
- sempre voando em torno da árvore. Só tem olhos e penas! Vamos
ver - acrescentou, pousando num galho - vamos ver de perto como você é.
Deixe-me ouvir sua voz. Se for tão bonita quanto sua cara vou ter que
tapar os ouvidos.
Enquanto isso a águia tentava, por meio das asas, abrir caminho por entre
os galhos para apanhar a coruja.
Porém um fazendeiro havia colocado, entre os galhos da árvore,
diversos ramos cobertos de visgo, e também espalhara visgo nos galhos
maiores.
Subitamente a águia viu-se com as asas presas à arvore, e quanto
mais lutava para se desvencilhar, mais grudadas ficavam suas penas.
A coruja disse-lhe:
- Águia, daqui a pouco o fazendeiro vai chegar, apanhar você e
trancá-la numa grande gaiola. Ou talvez a mate para vingar-se pelos cordeiros
que comeu. Você, que passou toda a sua vida no céu, livre de qualquer
perigo, tinha alguma necessidade de vir até aqui para caçoar de
mim?
(fonte: Leonardo da Vinci. "Fábulas e Lendas", interpretadas e
transcritas por Bruno Nardini. São Paulo: Círculo do Livro S.A.,
1972)
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