Após ter explorado a casa toda, por dentro e por fora, uma aranha resolveu
esconder-se no buraco da fechadura.
Que esconderijo ideal! Pensou ela. Quem jamais havia de imaginar que ela estava
ali? E além disso podia espiar para fora e ver tudo o que acontecia.
Ali em cima, disse ela para si mesma, olhando para o alto da porta:
- Vou fazer uma teia para moscas - ali embaixo, acrescentou, observando a soleira
- farei outra para besourinhos. Aqui, ao lado da porta, vou armar uma teiazinha
para os mosquitos.
A aranha estava exultante. O buraco da fechadura proporcionava-lhe uma nova
e maravilhosa sensação de segurança. Era tão estreito,
escuro, e era revestido de ferro. Parecia-lhe mais inexpugnável que uma
fortaleza, mais garantido que qualquer armadura.
Imersa nesses deliciosos pensamentos, a aranha ouviu o som de passos que se
aproximavam. Correu de volta para o fundo de seu refúgio.
Porém a aranha esquecera-se de que o buraco da fechadura não havia
sido feita para ela. Sua legítima proprietária, a chave, foi colocada
na fechadura e expulsou a aranha.
(fonte: Leonardo da Vinci. "Fábulas e Lendas", interpretadas e
transcritas por Bruno Nardini. São Paulo: Círculo do Livro S.A.,
1972)
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