Uma borboleta multicor estava voando na escuridão da noite quando viu,
ao longe, uma luz. Imediatamente voou naquela direção e ao se
aproximar da chama pôs-se a rodeá-la, olhando-a maravilhada. Como
era bonita!
Não satisfeita em admirá-la, a borboleta resolveu fazer o mesmo
que fazia com as flores perfumadas. Afastou-se e em seguida voou em direção
à chama e passou rente a ela.
Viu-se subitamente caída, estonteada pela luz e muito surpresa por verificar
que as pontas de suas asas estavam chamuscadas.
- Que aconteceu comigo? - pensou ela.
Mas não conseguiu entender. Era impossível crer que uma coisa
tão bonita quanto a chama pudesse causar-lhe algum mal. E assim, depois
de juntar um pouco de forças, sacudiu as asas e levantou vôo novamente.
Rodou em círculo e mais uma vez dirigiu-se para a chama, pretendendo
pousar sobre ela. E imediatamente caiu, queimada, no óleo que alimentava
a brilhante e pequenina chama.
- Maldita luz - murmurou a borboleta agonizante - pensei que ia encontrar em
você a felicidade e em vez disso encontrei a morte. Arrependo-me desse
tolo desejo, pois compreendi, tarde demais, para minha infelicidade, o quanto
você é perigosa.
- Pobre borboleta - respondeu a chama - eu não sou o Sol, como você
tolamente pensou. Sou apenas uma luz. E aqueles que não conseguem aproximar-se
de mim com cautela são queimados.
Esta fábula é dedicada àqueles que, como a borboleta, são
atraídos pelos prazeres mundanos, ignorando a verdade. Então,
quando percebem o que perderam, já é tarde demais.
(fonte: Leonardo da Vinci. "Fábulas e Lendas", interpretadas e
transcritas por Bruno Nardini. São Paulo: Círculo do Livro S.A.,
1972)
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