No cume de uma montanha muito alta havia uma pedra. E na borda da pedra havia
um floco de neve.
A neve olhou para o Universo em torno e pôs-se a pensar consigo mesma:
- As pessoas devem achar que sou convencida e presunçosa, e é
verdade! Como pode um pedacinho de neve, um mero floco de neve, como eu, permanecer
aqui no alto sem sentir vergonha? Qualquer pessoa que olhe para esta montanha
pode ver que todo o resto da neve está mais embaixo. Um pequenino floco
de neve, como eu, não tem direito a alturas tão vertiginosas,
e chego a merecer que o Sol faça comigo o mesmo que fez ontem com meus
companheiros, derretendo-me com um simples olhar. Mas vou escapar á justa
ira do Sol descendo para um nível mais apropriado para alguém
tão pequeno como eu.
Ao dizer isto, o pequenino floco de neve, rígido de frio, atirou-se do
alto da pedra e rolou para baixo do cume da montanha. Porém quanto mais
rolava maior se tornava. Em breve transformou-se numa grande bola de neve e
depois em avalanche. Finalmente parou numa colina, e a avalanche era tão
grande quanto a colina que ficava por baixo dela.
E por isso, quando chegou o verão, essa foi a última neve a ser
derretida pelo Sol.
(fonte: Leonardo da Vinci. "Fábulas e Lendas", interpretadas e
transcritas por Bruno Nardini. São Paulo: Círculo do Livro S.A.,
1972)
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