Um corvo pegou uma noz e levou-a para o topo de um alto campanário.
Segurando a noz com as patas começou a bicá-la para abri-la. Porém
subitamente a noz rolou para baixo e desapareceu numa fresta do muro.
- Muro, meu bom muro - suplicou a noz, percebendo que estava livre do bico do
corvo - pelo amor de Deus, que foi tão bom para você, fazendo-o
alto e forte, e enriquecendo-o com esses belos sinos de tão belo som,
salve-me, tenha pena de mim! Meu destino era cair entre os velhos ramos de meu
pai - prosseguiu a noz - permanecer no rico solo coberto de folhas amarelas.
Por favor, não me abandone! Quando eu estava sendo atacada pelo terrível
bico daquele corvo feroz, fiz um voto. Prometi que, se Deus me permitisse escapar,
eu passaria o resto de minha vida dentro de uma frestinha.
Os sinos, num doce murmúrio, avisaram o campanário que tomasse
cuidado porque a noz podia ser perigosa. Porém o muro, teve compaixão
e decidiu abrigá-la, deixando-a ficar onde havia caído.
Porém dentro em breve a noz começou a abrir e a estender raízes
nas frestas da pedra. Em seguida as raízes forçaram caminho por
entre os blocos de pedra e surgiram galhos que saíam pela fresta. Os
galhos cresceram, tornaram-se mais fortes e estenderam-se para o alto, acima
do topo da torre. E as raízes, grossas e enroscadas, começaram
a fazer buracos nos muros, empurrando para fora todas as velhas pedras.
O muro percebeu, tarde demais, que a humildade da noz e seu voto de ficar escondida
numa fresta não eram sinceros. E arrependeu-se de não ter dado
ouvido aos sinos.
A nogueira continuou a crescer e o muro, o pobre muro, desmoronou e ruiu.
(fonte: Leonardo da Vinci. "Fábulas e Lendas", interpretadas e
transcritas por Bruno Nardini. São Paulo: Círculo do Livro S.A.,
1972)
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