A Garganta da Serpente

Leonardo da Vinci

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O pessegueiro

(Leonardo da Vinci)

Um pessegueiro olhou para a castanheira a seu lado e invejou os galhos carregados de sua companheira.

- Por que esta árvore dá tantos frutos, pensou ele - e eu produzo tão poucos? Isto não é justo. Vou tentar fazer o mesmo.

- Não tente - disse-lhe um jovem pé de ameixas que lera o pensamento do pessegueiro - você não reparou na grossura dos galhos da castanheira? Não vê o tamanho do tronco? Cada um de nós deve dar aquilo que é capaz. Pense em produzir bons pêssegos. O importante é a qualidade, e não a quantidade.

Porém o pessegueiro, cego de inveja, não lhe deu ouvidos. Pediu a suas raízes que sugassem mais alimento do solo, que seus veios transportassem mais seiva, que seus ramos dessem mais flores e que as flores se transformassem em frutas até que, ao chegar a época da colheita, ele estivesse carregado de cima a baixo.

Mas quando os pêssegos amadureceram, seu peso aumentou, e os galhos não conseguiram sustentá-los. O tronco também não agüentou aqueles galhos tão carregados de frutas. Com um gemido, o pessegueiro curvou-se. E então, num grande estrondo, o tronco quebrou e caiu. E os pêssegos apodreceram ao pé da castanheira.

(fonte: Leonardo da Vinci. "Fábulas e Lendas", interpretadas e
transcritas por Bruno Nardini. São Paulo: Círculo do Livro S.A., 1972)

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