A Garganta da Serpente

Esopo

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Os dois castores

(Esopo)

Dois castores que pouco se falavam, mas moravam em rios que corriam paralelos.

Um dia, em meio à construção de um enorme dique para conter o rio que teimava em se encher com a água da chuva, o castor do rio da direita notou, exausto, que os galhos estavam terminando. Sem graça, gritou, então, ao castor do rio da esquerda, se ele poderia doar um ou dois galhos.

Voaram dois galhos por sua cabeça, que o castor agoniado tratou de enfiar pelo amontoado de galhos que já começava a mostrar sinal de fraqueza. Desesperado, o castor tratou de ajeitar os galhos aqui e ali, até que, em pânico, perguntou mais uma vez ao castor do rio da esquerda se ele poderia jogar mais dois ou três galhos. Nem bem os galhos voaram para o seu lado, o castor, nervoso, encaixou-os em meio à pilha de galhos que agora tremiam como uma geléia e estancou, paralisado, à espera do pior.

Alucinado, gritando por socorro, pela primeira vez em sua vida o castor do rio da direita subiu, atabalhoado, a encosta do seu rio e já ia descer correndo para dentro do rio da esquerda, quando parou, chocado com o que via.

No rio da esquerda havia um outro dique, enorme e resistente, a conter a força da água. Deitado sobre ele, roendo calmamente um folha de árvore, estava o outro castor, que observava as centenas de galhos que haviam sobrado, flutuando à sua frente... Antes que o castor do rio da direita pudesse se arrepender de algo, o seu pobre dique arrebentou.

Em questão de minutos o rio transbordou, afogando o apavorado castor e cobrindo com enormes ondas o rio da esquerda, que engoliu o outro castor, sua folhinha de árvore e as centenas de galhos que haviam sobrado.

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