Ratão era um malandro: se era um gato!
Beltrão, outro maior, porque era mono.
Gozavam ambos um viver pacato,
Servindo com preguiça o mesmo dono.
Este par de tratantes
Tinha perdido o medo a toda a gente.
Furtavam a valer! E felizmente
Que - não sendo os criados vigilantes
Não punham pé em casa dos estranhos.
O Beltrão, que larápio! E malfazejo.
O Ratão, esse andava atento ao queijo
E já nem se importava com murganhos.
Um dia, os dois, sentados
À lareira,
Recebendo o calor, muito chegados,
Viam assar castanhas. E pensavam,
Sentindo comichões de ladroeira:
- Quem as surripiasse! Tinha graça!
Era um belo petisco que papavam,
E pregavam por cima uma pirraça.
Beltrão, já com a boca muito aguada,
Pespegou no colega uma palmada
E disse-lhe, a sorrir, com muitas manhas:
- Quero admirar a tua habilidade!
Tu dizes que - és esperto,
Que tens agilidade...
Ora vê lá se safas as castanhas! . . .
Não és capaz. Vamos a ver se acerto.
É difícil, é fato,
Mas . . . Ah! que, se eu tivesse mãos de gato,
As castanhas saltavam cá pra fora!
Ratão, sem mais demora,
Inchado de fumaças de quem pode,
Com muita ligeireza
Arreda a cinza, escalda-se, sacode
Os dedos; vai com mais delicadeza...
Pá! Rola uma castanha, duas, três!...
Beltrão ria-se, vendo
Executar esta partida nova.
- Que grande ligeireza! - E ia comendo.
Chega a criada... Ztt! Mas, desta vez,
O hábil Ratão saiu-se mal. Que sova!
Uma observação aqui registro:
Seria muito fácil, quanto a mim,
Mudar este macaco num ministro
E transformar o gato em galopim.
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