A Garganta da Serpente

La Fontaine

Jean de La Fontaine
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O macaco e o delfim

(La Fontaine)

Tinham os gregos por costume antigo
Ao cortarem do mar a salsa via,
Em os navios seus levar consigo
Cães e macacos. Em um certo dia,

Um navio equipado desta sorte,
Não distante de Atenas naufragara,
E todos sofreriam crua morte
Se um bando de delfins os não salvara.

Segundo afirma Plínio, é nosso amigo
Este animal. Sabendo isto o macaco,
Para escapar daquele grande perigo
Por homem se impingiu. O que é ter caco!

Cai no engano o delfim (lorpa no caso!);
Ao lombo o macacão trepar deixou,
Foi nadando, nadando e, por acaso,
Antes de o pôr em terra perguntou:

Dize-me, és tu de Atenas? - É verdade
Aí sou bem conhecido, tenho sócios,
Parentes na mais alta sociedade...
Conta comigo se lá tens negócios.

- Conheces o Pireu? - Como os meus dedos,
É amigo em que todo o afeto eu pus...
Fizemos rancho em juvenis brinquedos.
O delfim ouvindo isto - catrapus!...

Foi o macaco um parvo sem segundo,
Creu que o nome dum porto era o dum homem!
Assim há palradores neste mundo
Que o pão de Deus, imerecido, comem.

(fonte: "Fábulas de La Fontaine". Tradução: José Inácio de Araújo
Rio de Janeiro: Editora Brasil-América - EBAL - SA, 1985)


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