A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

Lavamos as mãos como Pilatos?

(Haroldo P. Barboza)


A maioria dos brasileiros, possui o mau hábito de não participar, delegar poderes, reclamar sem base e gastar muito para corrigir problemas que poderiam ter sido resolvidos há mais tempo a um custo 20 vezes menor. A qualidade de dirigentes que conduzem nossa nação nos dá a certeza desta nossa prática inadequada. Votamos em qualquer um (ou a urna eletrônica vota por nós?), esquecemos os nomes dos sujeitos e os deixamos agir impunemente sem lhes cobrar as ações devidas, relativas às promessas feitas durante a campanha. Posteriormente ele alega que não foi bem aquilo que quis dizer (apesar da imagem gravada) e que surgiram novos fatos que impedem o desenvolvimento do programa prometido. Na verdade apareceram mais sócios de goelas abertas para receberem uma gorda fatia do bolo patrocinado pela "viúva". Antigamente era chamado de suborno, propina ou comissão. Hoje evoluiu para "mensalão".

Quando observamos a rua com ralos entupidos, esbravejamos contra a Prefeitura que não recolhe aquele material que nos incomoda. Mas esquecemos que jogamos garrafas plásticas, latas de alumínio, papéis de sorvetes, sacos de biscoitos e outros detritos pelas janelas dos carros. Estes exemplos são seguidos pelos de menor posse, que jogam cadeiras capengas, baldes furados, colchões retalhados e similares. Dá para concluir que a Prefeitura precisaria de uns 100.000 garis para enfrentar uma população de mais de 12 milhões de "colaboradores"!

Num cenário em que o primeiro escalão se aproveita de imunidades para desviar verbas sociais para salvar entidades financeiras dos poderosos amigos enquanto o povo se distrai com novelas sem mensagens de valor familiar, a tendência é piorar o quadro de miséria e desespero entre os excluídos que nos cercam. Que o caldeirão vai explodir, ninguém tem dúvida. As apostas giram em torno do tempo. Pode demorar de 5 a 20 anos. Depende da criatividade dos aproveitadores em hipnotizar a população, fazendo-a acreditar que tudo vai melhorar a partir da próxima eleição (a seca do Nordeste já serve de trampolim eleitoral há mais de 70 anos, consumindo verbas que são aplicadas nos grandes latifúndios). Até lá, o índice de violência que nos cerca, tende a aumentar. Iludem-se aqueles que acreditam que estão a salvo com a fixação de grades em torno dos prédios, colocação de câmeras nos corredores, alarmes nas portas e roletas de controle de trânsito de transeuntes dentro dos limites de cada condomínio. Os amigos do alheio estão sem trabalho. Possuem todo o tempo necessário para estudar os sistemas e encontrar as brechas necessárias para atingir seus objetivos. Conseguem obter armas e fardas dentro das corporações militares combalidas e constituídas de elementos que já não distinguem a dignidade de suas posições dentro da sociedade surda. A falta de pulso das autoridades em cuidar destes problemas, facilita esta ação. Ainda mais quando algumas "autoridades" estão interessadas na manutenção do caos, para comercializar as "soluções".

Como reverter este quadro num curto espaço de tempo (otimistamente, entre 20 e 80 anos) ? Começando a exercitar a cidadania desde agora, pelo menos umas duas vezes por mês (uma hora cada). Nas reuniões de condomínio, um dos itens obrigatórios deveria ser o debate político (não ficar elogiando ou difamando a vida particular do candidato A ou B - muitos se popularizam por terem uma estampa agradável), no sentido de estabelecer formas de criar mecanismos de pressão nas cobranças das contas manipuladas e no retorno dos benefícios relativos aos impostos recolhidos antecipadamente. O resultado de cada núcleo, se praticado entre os prédios vizinhos (sendo bom, não é vergonha copiar), começará a disseminar uma nova mentalidade entre os participantes. Seria conveniente a presença de jovens a partir de 12/14 anos, no intuito de manter o diálogo em bom nível e para que eles aprendam a se conduzir numa discussão coletiva relatando sua visão do futuro. A escola se complementa em casa e na comunidade. Inclusive os adolescentes, também devem ser ouvidos sobre as normas a serem definidas quanto ao uso e horários das áreas de recreação. É um exercício saudável, que unirá mais as famílias, os vizinhos e o bairro. Fica mais fácil agregar pessoas com este comportamento, para uma luta constante no sentido de obtermos o cumprimento das promessas feitas pelos eleitos antes do pleito. Serão milhares de fiscais atentos no encalço do seu representante público. Precisamos acabar com esta herança de que o nosso povo esquece tudo com facilidade, que dá aos governantes, a sensação de que são os gênios que nos tomam impostos, manipulam as verbas da forma que lhes interessa e nos prestam contas com declarações de renda fantasiosas, que não passariam nem numa "malha grossa" de qualquer país satélite do 3º mundo.

  • Publicado em: 12/08/2005
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente