Tomando como centro de um círculo minha residência, num raio aproximado
de 5 km, no final de março efetuei uma pesquisa em 12 escolas (municipais
e estaduais) dentro deste perímetro. Não fiz uso de falsidade
ideológica. Apresentei-me como um cidadão preocupado com o
tipo de educação que meu neto (que está para chegar) poderá
ter dentro de 5 ou 6 anos. Disse aos entrevistados que não representava
nenhum órgão oficial nem era patrocinado por nenhuma ONG.
Apenas expliquei que exibiria o resultado em 4 sites de credibilidade e por isto
nem desejava saber o nome de cada pessoa abordada. Das quase oitenta pessoas consultadas,
consegui respostas com: 5 professores, 11 funcionários e 18 parentes das
crianças entre 5 e 10 anos. Não as entrevistei porque imagino que
a maior preocupação delas no momento é com o aumento do tempo
de recreio, maior quantidade de lanches e provas com perguntas mais fáceis.
Pedi que me concedessem apenas um minuto e atribuíssem notas de 1 a 10
(1 = péssimo 10 = excelente) às questões que exibo
a abaixo já tabulada a média de cada item.
A aspecto físico do prédio (pintura, janelas, mofo nos tetos,
lâmpadas adequadas, limpeza dos banheiros, móveis em condições
de uso, ventilação, outros). Média = 4,2 (maior nota = 6).
B carga horária anual (quantidade de horas por dia e meses que as
crianças passam na escola). Média = 6,8 (maior nota = 9).
C adequação do currículo escolar (matérias
úteis, formato de ensino definido pela direção da escola,
integração com a família para complementar o ensinado, forma
de avaliação dos alunos, apoio complementar aos mais fracos, outros).
Média = 4,4 (maior nota = 7).
D aspectos estruturais (dificuldade de matrículas, distâncias
da escola da moradia do aluno, falta de professores, motivação dos
mestres, atendimento das secretarias locais, outros). Média = 6,2 (maior
nota = 8).
Confesso que imaginei médias piores. Mas pensei: esta pesquisa foi feita
nas áreas de Vila Isabel, Grajaú e Tijuca. Como será o cenário
depois do Méier, Madureira, Bonsucesso, Bangu e localidades onde a imprensa
não costuma aparecer? Espero que um voluntário da localidade fique
curioso por efetuar tal pesquisa.
Dois professores municipais me confidenciaram que o atual Prefeito decretou que
no almoço dos alunos não consta mais carne (peixes, aves e ruminantes).
As refeições dos Mestres também foram cortadas. Assim como
o vale cultura, que lhes permitia 50% de abatimento em cinemas, teatros e compras
de livros. Fora a exígua cota de 800 folhas de xérox por mês
(quando as máquinas estão funcionando) para confecção
de trabalhos diários. Para nós que compramos resmas de forma avulsa,
cada folha custa R$ 0,06. Para quem adquire milhares de pacotes, não deve
passar de R$ 0,04 (tirando o superfaturamento, é claro). E quanto aos salários
miseráveis, nem vou citar, por já ter abordado o tema em dezenas
de outras oportunidades.
A educação no Brasil está mais sucateada que a malha ferroviária
(ambas propositalmente). Falta de educadores, professores mal pagos, prédios
abandonados, falta de material básico, carga horária mal elaborada,
matérias mal aplicadas, política de exame e aprovação
em desacordo com o bom senso.
Concordo com meus pares que afirmam que este caos só terminará quando
uma Lei estabelecer que filhos e netos de parlamentares sejam obrigados a estudar
em tais escolas durante o período em que os eleitos se abriguem na câmara
para a qual concorreram.