Imagine a seguinte situação: a dona de casa passa o dia arrumando
o lar. Sai o marido para o trabalho e os filhos para a escola e ela mergulha
na árdua tarefa de consertar os estragos provocados pelo "furacão"
da presença de seus entes queridos. O caos vai desde a manteiga escorrida
na toalha da mesa da cozinha, passando pelos chinelos abandonados no banheiro,
pelo jornal desfolhado na sala e culmina nos objetos perdidos sob as camas dos
quartos. Aí está o núcleo do caos. Ela tem até receio
de atravessar a porta dos quartos dos filhos e ser acidentada por algum objeto
pontudo pronto para despencar da estante. Desde uma leve luva de goleiro (ainda
que suja de lama), até uma velha impressora do computador que qualquer
dia o herdeiro vai desmontar o artefato para aproveitar algumas peças
ainda em bom estado. Fora a estafante tarefa de procurar a conta de telefone
que pode estar até debaixo da cama ou atrás do vaso de plantas.
Se o cão de estimação ainda não tiver estraçalhado
o papel para afiar os dentes. E ninguém avisou que o tubo de pasta de
dentes terminou. Esta desorganização ajuda bastante na montagem
de um estado de depressão desta heroína, tendo em vista que pouco
tempo sobra para esta mulher cuidar de si mesma, desenvolvendo atividades que
preservem sua estampa, enriqueçam sua mente e alimentem seu espírito.
Um belo dia ela resolve organizar este ambiente. Cansada de ser a escrava dos
insensíveis amados, agraciada apenas com o título de "rainha
do lar", define lugares exatos para objetos sejam guardados após
o uso e distribui tarefas aos habitantes deste lar bagunçado. A cada
momento que um deles pratica um desleixo, ela o lembra de pendurar a toalha
de banho, guardar a roupa suja no cesto antes de sair, amarrar o saco de lixo,
engraxar os sapatos e outras pequenas tarefas "mortais" aos preguiçosos
masculinos. Também elaborou uma tabela do uso da televisão. E
mesmo tendo ficado com apenas 2 diárias horas para si, ouviu murmúrios
de desagrado dos desleixados. Os acomodados, que até então se
realizavam com a mordomia integral de não contribuir para a harmonia
do ambiente, suprimindo algumas energias esportivas a favor do social familiar,
se revoltam, alegando cerceamento de liberdade e prática de tirania por
parte daquela que antes era uma mulher perfeita (pois tudo fazia graciosamente
sem reclamar).
Da mesma forma que esta curta fábula (que infelizmente é uma realidade
em alta escala dentro de nossa sociedade), nossa pátria também
está repleta de gente que se esconde atrás da bandeira da liberdade
para poder ficar à vontade executando as proezas que satisfazem apenas
aos seus interesses em detrimento dos demais habitantes do espaço, cujos
interesses são pisoteados sem cerimônia. Qualquer tentativa que
se proponha para definir uma conduta dentro das normas estabelecidas por leis
para buscar o equilíbrio da convivência, provocam algumas vozes
apoiadas na imprensa amarrada para reclamar seus "direitos" (de desrespeita-los).
Começam a pronunciar belos discursos enaltecendo a democracia e rotulando
os defensores dos valores morais e disciplinadores de "tiranos". Efetivamente,
até bosta em verso pode ser considerada bela (qualquer agência
publicitária de qualidade média monta uma propaganda capaz de
induzir os desatentos a comprarem tal produto). Como o "nu artístico"
praticado num palco de teatro (vai ver quem quer - diferente da tv que invade
lares de surpresa e encontram crianças desprotegidas). Discursos floridos
sobre ditaduras que não deram certo e onde tiranos executaram opositores
sem julgamento adequado certamente reforçam a tese de que tal modelo
de governo ocasiona prejuízos consideráveis à sociedade.
Mas um purgante faz-se necessário quando o intestino não funciona
corretamente e ficamos sem evacuar por 4 dias seguidos.
No entanto, provavelmente os parias não contabilizam as perdas humanas
e materiais, provocadas pelos sistemas democráticos, onde os legisladores
redigem mal (propositalmente e por despreparo), os executivos se aproveitam
para tirar vantagens em proveito próprio, os juristas silenciam (por
cumplicidade e acomodação) e as entidades representativas dos
segmentos da sociedade não protestam (por contaminação).
Mesmo sem dados contabilizados, temos o sentimento de diversos prejuízos
que sofremos com o sistema de "liberdade" ora em vigor em nosso universo.
Ilustremos alguns.
Enquanto bancos e laboratórios conseguem lucros de 60% num ano, os salários
dos trabalhadores são reajustados em média, 8%. É a liberdade
financeira (somente a favor dos tubarões).
Enquanto o povo não consegue financiamento honesto para adquirir moradia
digna (tendo de inchar as favelas) nem para montar seus pequenos negócios,
estão loteando o Amazonas e as áreas petrolíferas entre
abutres estrangeiros. É a liberdade de doação de nosso
patrimônio natural.
Enquanto o povo se acotovela (os que ainda podem pagar passagens) nos trens
sucateados, foi liberada verba para aquisição de luxuoso avião
de 180 milhões de Reais para mandarem o Presidente ao exterior perdoar
dívida do Gabão e intermediar jogo de futebol no Haiti. É
a liberdade de locomoção.
Promoveram uma campanha demagógica de comprar armas velhas de cidadãos
pacíficos, projetando recolher 100.000 artefatos em 9 meses, enquanto
10.000 armas modernas chegam às mãos dos bandoleiros em todo Brasil
em um mês. É a liberdade de defesa de nossa vida. Se bem que podemos
contar com os 38 enferrujados e sem balas dos nossos policiais acuados dentro
de delegacias que trancam as portas após 20 horas e não enviam
viaturas para bairros perigosos. Os presídios são mantidos lotados
para proporcionar licitações de quentinhas, medicamentos e outros
itens que fazem com que cada preso custe ao trabalhador algo em torno de R$
1800,00. É a liberdade dos "cidadãos".
Se um de nós serrar algum galho de uma árvore que esteja ameaçando
tombar sobre nossa casa, somos acionados com altas multas pelo IBAMA. Já
os fazendeiros que patrocinam as campanhas eleitorais, promovem queimadas nas
grandes reservas florestais e não são intimados. É a liberdade
de preservação da natureza.
Enquanto a população enfrenta filas durante a madrugada para obter
senha (sem garantia de atendimento) nos postos de saúde sem remédios
e com poucos heróicos profissionais, os planos de saúde definem
aumentos de 80% em suas mensalidades. É a liberdade da saúde (das
contas bancárias das aves de rapina).
Enquanto o trabalhador braçal recebe R$ 350,00 por mês para trabalhar
2400 horas por ano, os legisladores federais recebem R$ 16.000,00 (fora comissões,
mordomias e "mensalões") para "costurarem" acordos
e violarem painéis durante 800 horas anuais. É a liberdade do
mercado de trabalho.
Enquanto milhares de crianças são escravizadas em fazendas e minas
de carvão, professores são humilhados por ridículos salários
e escolas vão desmoronando lentamente. É a liberdade de educação
para todos.
Enquanto metade da população efetua uma parca (e porca) refeição
diária e posa nos cartazes de arrecadação de fundos do
"fome zero", as despensas do planalto estão abastecidas para
alimentar mais de 200(?) pessoas durante 6 meses com iguarias de alta qualidade.
É o direito primário de alimentação, restrito à
casta privilegiada.
Estão tramando a criação de uma "agência reguladora"
de informações para impedir que as denúncias sobre escândalos
da cúpula venham a público. Somente notícias que não
revelem os desmandos do poder serão liberadas pelo bem da ética(?)
jornalística. É a liberdade de imprensa em toda sua plenitude.
Nossas forças armadas sofreram drásticas reduções
em seus orçamentos, impedindo um soldo melhor para seus atuantes, aquisição
de equipamentos mais modernos e aprimoramento de cursos de aperfeiçoamento
de seus integrantes. É a liberdade do direito de termos meios de defender
nossa soberania.
Enquanto o Mi(si)nistro da Justiça propõe abrandamento para penas
de crimes hediondos, os cidadãos de bem, que pagam impostos, são
condenados a viverem encarcerados atrás das grades de suas casas. É
a liberdade de transitarmos pelas vias públicas sem temor.
Se contabilizarmos as mortes dos prejudicados pela junção de todas
estas medidas dirigidas pelos ratos de gabinete, acumularemos mais vítimas
diárias que qualquer regime duro de exceção. Temos centenas
de situações para ilustrar os diversos modelos de "liberdade"
que o regime atual nos concede. Mas os citados acima já nos bastam para
termos sentimento do circo montado onde nós somos os palhaços,
os acomodados que se contentam em comparecer às seções
eleitorais para apertar teclas de urnas eletrônicas que correm sérios
riscos de serem fraudadas por "kachers" bem remunerados pelas elites
dominantes.
Arrumar um país sem dúvida é mais difícil do que
organizar uma casa onde existem 4 ou 5 cabeças com pensamentos desalinhados
(além dos cabelos). Tem gente demais dando palpite, empurrando as questões
com a barriga para o próximo governo, criando conflitos para vender falsas
soluções, fabricando novos tumultos para esquecermos os anteriores
e barrando qualquer proposta de mudança de atitude, pois o caos atual
lhes proporciona bons lucros (ainda que corram alguns riscos de violência
por parte dos excluídos). Mas se houvesse possibilidade de juntar as
forças de todas as mulheres que com fibra sustentam a moralidade em seus
lares, certamente teríamos uma força aliada de poderio inquestionável.
É deste espírito "tirânico" que precisamos experimentar
para começarmos a perceber que seguir as regras com seriedade não
significa perda de liberdade e sim, ganho de conforto e felicidade. Seria saudável
trocarmos as armas de frios canos de aço pelas quentes "balas"
de amor disparadas pelos corações femininos.
Se depois de dezenas de séculos o homem produziu este cenário
de caos onde vegetamos, que tal experimentar um modelo conduzido por quem possui
maior percepção do valor da vida?