Separar uma laranja estragada das demais é fácil, quando sua casca
apresenta deformações e colorações evidentes que
indicam seu estado de putrefação. Mas olhando para um belo caqui
reluzente, não é possível saber se ele está no ponto
ou com cica. Neste caso nos desculpamos pela escolha mal feita, pois não
temos meios de identificar esta irregularidade com os olhos. E não podemos
culpar a Natureza de má fé, pois ela não premeditou isto
para nos iludir. Ter cica, faz parte do ciclo da vida de certas frutas. Nós
é que não adquirimos conhecimentos suficientes para identificar
este incômodo aos nossos paladares. E a ganância não permite
que as frutas se tornem comestíveis dentro do tempo correto. Estamos
procurando sinais de vida em planetas distantes 10.000 anos-luz e não
sabemos metade dos segredos escondidos a 2.000 metros abaixo do mar. Nem descobrimos
a vacina para erradicar o resfriado (ou já foi descoberta mas isto impediria
a venda de milhões de comprimidos diários de AAS). O automóvel,
estruturalmente continua o mesmo há quase 100 anos. Não evoluiu
como a tv, por exemplo.
Depois desta introdução que mais parece o início de alguma
fábula, podemos fazer a analogia com os candidatos que regularmente se
apresentam para os cargos públicos. Alguns poucos estão com a
ficha corrida (eles chamam de currículo) tão suja que certamente
não seriam aprovados nem para trabalhar como serventes em um antro de
pilantras (até entre os pilantras existe algum tipo de ética).
E por falar em trabalho, você pode ter certeza que metade dos homens que
militam na vida pública a mais de 30 anos ininterruptos, caso percam
o mandato não saberão desenvolver nenhuma atividade produtiva
que lhes garanta o sustento. Normalmente tentam viver de palestras com seus
cartões de visitas onde se lê que ele é um "consultor"
seguido de outra palavra qualquer usada nos meios administrativos. Ainda bem
que já recebem aposentadoria após 8 anos de profundos "esforços"
pela comunidade. Você sabia que eles trabalham(?) no máximo 800
horas por ano enquanto você, que ganha 10 ou 40 vezes menos dedica o triplo
de tempo pela sua empresa e a maior parte de seus impostos caem nas contas correntes
deles?
As relações de candidatos que temos disponíveis, mais parecem
com um cesto de caquis reluzentes. Só que não é um polimento
natural. É uma maquiagem preparada pela mídia acorrentada, que
varia de intensidade conforme o poder econômico do grupo que patrocina
a legenda da qual faz parte o elemento nocivo. Algumas pessoas nos aconselham
a escolher bem, procurando informações do passado do candidato.
Só que esta pesquisa não está disponível para 95%
da população, que mal tem tempo de arrecadar o suficiente para
a alimentação da família e mal lê as manchetes dos
jornais pendurados nas bancas. Quem possui meios de pesquisar arquivos, jornais
antigos, acompanha o cotidiano político e troca idéias com membros
de boa posição na comunidade, tem uma enorme chance de tentar
estabelecer o perfil dos candidatos em pauta. Mas eles são hábeis
em se camuflar. A todo instante trocam de partido (seria como trocar o caqui
de caixa) e fazem novas coligações com promessas que depois os
deixam comprometidos e obrigados a montarem novas falcatruas para atender aos
interesses daqueles que o sustentam agora. Mas estes grupos de eleitores esclarecidos
(médicos, advogados, engenheiros e outros de grau similar) representam
menos de 10% dos eleitores. Não decidem as eleições. A
grande massa de votantes é mantida na escuridão das informações.
Como um operário da construção civil, depois de carregar
sacos de cimento nos ombros sob o Sol durante 12 horas e passar 2 horas dentro
dos trens apinhados, terá ânimo para buscar informações
que melhorem suas vidas? Quando muito, ainda possuem forças para chamar
a todos de ladrões (os bem intencionados pagam pelos parceiros a quem
não denunciam). Estes elementos sofridos da população são
atraídos para a página de esportes pela manchete colorida (que
observam nas bancas, pois seus centavos quase não são suficientes
para o café matinal) que diz: "Mengão arrasa e humilha time
de Campinas". Ou então são conduzidos para a seção
de fofocas com a chamada: "Atriz da novela das oito desfaz casamento de
três meses após noitada em iate de milionário". Estes
leitores nem percebem aquelas duas linhas em letras pequenas que anunciam sem
entusiasmo (quando anunciam): "Deputado Federal está envolvido com
desvio no INSS". Não tiveram a felicidade e oportunidade de serem
orientados nas escolas para desenvolverem o espírito de cidadania em
defesa de seus direitos. E seus filhos estão no mesmo caminho, tornando-se
"soldados das drogas", cuja média de vida não chega
a 25 anos. E a sociedade que tem consciência do perigo que espreita nosso
futuro, não se atreve a exigir uma articulação sólida
para combater este caos, pois está contaminada pela "síndrome
do sapo fervido".
Só vai pegar em panelas vazias para fazer barulho quando estivermos no
mesmo nível da Argentina (falta pouco) e as novelas não mais conseguirem
distrair a fome de nossos filhos.
As urnas eletrônicas estão sendo montadas de forma que só
veremos retratos de caquis nas telas. Em qual caqui vamos votar no próximo
pleito? Talvez seja melhor jogar o dado e escolher o número indicado.
Depois, se algo der errado, basta culpar o pequeno objeto. Se não há
como identificar o caqui puro, melhor votar NULO!