A cada fase que vivemos, cada momento que desfrutamos, cada época, idade
e experiência, nos traz alguma coisa nova que podemos somar como saldo
positivo em nossa jornada, mesmo quando aparentemente algo sugere a negatividade.
Talvez a característica mais bela da vida seja a mutabilidade, o renovar
constante, a perene novidade de nosso cotidiano e a suprema capacidade do ser
humano em adaptar-se a mudanças.
Conforme vamos desvendando o significado, o sentido de nossa caminhada, e deixando
que cada relacionamento que nos surge na vida floresça em sua própria
peculiaridade, que cada evento se externe e nos comunique sua mensagem, vamos
nos encantando com a maravilha que é viver e descobrindo a sabedoria
que subjaz cada acontecimento, seja ele em roupagem agradável ou não...
Por vezes reflito se a verdadeira sabedoria não está na simplicidade
do indivíduo que se deixa mergulhar na vida com olhos curiosos, com a
mente receptiva para o que se passa a sua volta, e com o coração
escancarado, disposto a experimentar, sem receio e com a eterna confiança
dos inocentes, todo sentimento que a vida nos oferece, sem julgar, sem pré-conceitos,
sem resistência alguma, apenas e tão somente experimentar,saborear
e então descobrir, através da vivência, a riqueza e diversidade
que compõe nosso cotidiano.
Parece-me que a vida realmente é uma festa, como já afirmou um
pensador de nosso tempo... E uma festa onde todos somos convidados a participar,
onde não há exigência de traje, de contribuição
que onere, nem condição alguma que possa nos vetar o direito a
participar. Apenas nos é acenado que devemos usufruir, aproveitar e nos
deliciarmos com o banquete oferecido...
Então, há a possibilidade de descobrirmos dentro de nosso cotidiano
coisas surpreendentes que poderão interferir em nossas escolhas e, assim,
alterar nosso destino.
Tive a sorte de contar em minha formação acadêmica com um
professor que era, sem dúvida, uma pessoa brilhante, daquelas que nos
seduzem pela simplicidade com que polvilham nossos momentos de estudo com prendas
de inestimável valor, proporcionando-nos uma compreensão clara
e objetiva de feitos e aspectos da vida, que nos consumiam horas e horas de
reflexões infrutíferas...
Como sempre tive a inclinação para o aspecto filosófico
da vida, tão logo o conheci já me dispus a aproveitar ao máximo
seus ensinamentos.
Certo dia, estávamos em aula com o tão querido mestre e um colega
levantou a questão da casualidade... E passou-se a discorrer sobre o
acaso, o aspecto aleatório do andamento da existência, dentro de
nosso cotidiano, como elemento decisivo que esbarrava, sem cerimônia,
com a vontade do indivíduo.
Todo o grupo se animou e cada qual manifestou-se, com uma propriedade impressionante,
a respeito da casualidade...
Depois de muito se conjeturar, de cada aluno colocar suas conclusões,
consideradas por eles, brilhantes reflexões, nosso mestre, senhor já
de certa idade, possuidor de uma calma deliciosamente contagiante, e que até
então apenas ouvia atentamente seus pupilos, transmitindo pelo brilho
dos olhos um genuíno interesse pelos caminhos onde percorriam os pensamentos
do grupo que liderava, esboçou serenamente um sorriso e pediu humildemente
a palavra.
Todos nós, de imediato, nos silenciamos e nossa atenção
voltou-se para ele que, agora em pé, aproximou-se da lousa e escreveu
a seguinte palavra:
Natureza.
Feito isso, dirigiu-se a nós e foi perguntando a cada um de nós
o que observávamos na natureza.
O primeiro comentou sobre o rio...e seu destino: o colega seguinte sobre a floresta,
depois falou-se das flores, animais e assim por diante todos fomos pontuando
as obras que a natureza realizava, culminando com o nascimento de uma criança
e o fascínio desta "produção"!
Após estas colocações e reconhecimento da sabedoria e perfeição
com que a vida agia em sua criação, nosso mestre virou-se e perguntou
apenas:
- Segundo a observação de vocês, tudo que mencionaram é
criação perfeita da natureza, em que não foi preciso haver
a mão do homem, a interferência do individuo, para que se realizasse.
O homem atua, interfere sim, mas porque deseja alterar o que existe, não
pode ele criar...
- Minha questão a vocês é a seguinte:
- Tudo que mencionaram aqui e que ocorre com certa constância e regularidade
é por ventura obra da casualidade?
Fez-se um silêncio agradável. Na verdade, foi o silêncio
mais rico em sonoridade que já pude experimentar...
Sem mais nada dizer, calmamente nosso mestre dirigiu-se ao quadro e em frente
à palavra Natureza, escreveu... Criador!
Em questão de segundos tive a percepção exata do que significava
nosso cotidiano, um desenrolar sutil e harmonioso de fatos, eventos que nos
convidam a buscar sintonia com um ritmo cósmico, uma certa ordem Divina,
uma atividade serena e poderosa, única, que nos conduz aos resultados
mais precisos e que se transformam e realizações.
O que pudemos aprender naquele dia foi algo interessante e verdadeiro. Nosso
cotidiano é sem dúvida, a riqueza com que a vida nos presenteia
nos convidando a mergulhar nele com atenção e sensibilidade, pois
é nele que estão contidas todas as respostas que buscamos em nossa
vida...
Assim, a grande dica parece apontar para que caminhemos atentos...muito atentos
ao nosso dia a dia!