Sou um homem rude e de poucas falas. Não faço sexo com meias.
Faço-o descalço, nu. E depois do sexo, ficamos a cheirar à
esturro. Eu e elas. E quando nos cruzamos na rua, não lhes passo cavaco!
Se eu fosse gente, mexia os cordelinhos para que todas as fêmeas desta
terra tivessem um macho dentro de casa. É que às vezes faz-me
espécie ser gigolo, ter um "pau" para toda a obra. Ter viúvas
gordas e sedentas de sexo a querer meter a minha "piroca" dentro do
saco, a qualquer custo. P'ra elas é monte Binga . Para mim, é como
fazer sexo com uma pistola apontada à cabeça!
Uma senhora do alto-maé , mulata, a roçar a menopausa dos quarenta
e nove; peguei-lhe, à justa, pelas carnes e apresentei-lhe o gordinho.
Ela simpatizou logo com o moço. Pegou nele e começou a fazer-lhe
festinhas. Parecia uma gata a brincar com a sua vítima já morta.
Entre o gordinho e a parede, ela escolheu o gordinho. Quando meti a carne no
assador, os lábios dela ficaram brancos, gelados de prazer, a boca na
nuca e os olhos comendo a cara. Pinocar com uma gorda, é a mesma coisa
que fazer um "test-drive" a um comboio.
No fim da viagem, ela deu-me o "sine qua non" em notas de cem, duzentos
e quinhentos; tudo junto! É sempre assim: recebo cash e não pago
impostos. Quando já ia pôr o pé na estrada, a mulata começou
a ter mais olhos que barriga: apanhou-me nas curvas e disse que queria ficar
amigada comigo. Era só o que faltava: o "gordinho sem prepúcio"
a dar farelo às galinhas e a ir ao poço buscar água.
Fui taxativo e redondo na resposta: NÃO! Ela passou-se! Abriu
a gaveta da cómoda, puxou a "Glock" do marido e apontou-me
o "xibamo" na cara, trémula. Uma mulher rejeitada é
pior que um cinzentinho
; nem vale apena pôr a língua na pilha dela.
Continuei sereno, imperturbável. Mesmo diante da morte, um homem não
deve perder o respeito por sí próprio. Temos que justificar, sempre,
o dom que carregamos no meio das pernas. Por fim, baixou a arma, aos prantos.
Quando eu ia a sair ouvi-lhe berrar: Se te apanho na rua, encosto-te o carro!
Psst... mandei-lhe para "aquele" buraco.
Nunca fiquei amigado com uma cliente. Jamais! Ainda por cima uma que
tinha um corpo que o cérebro não reconhecia... Nem sonhar! Desde
que comecei a dormir com esta vida, nunca andei à mingua de mulheres.
Já viram aquela bicha do BIM ? A lista do "Gordinho sem prepúcio"
é igual: dá volta ao quarteirão. Só consigo dar
vazão a trinta pedidos por mês. Mas se eu não tivesse escrúpulos,
se andasse a despachar o serviço em quinze minutos, como fazem os outros,
podia triplicar a cifra. Eu não fui um gigolo qualquer. Sou feito de
outro material: tecnologia de ponta com um "quê" de rudimentar.
Nunca vendi o "Gordinho" a homens nem a bórdeis. Da única
vez que pisei um bordél, foi para dormir com a proprietária, uma
branquinha que estava há canelas sem o calafrio de um homem dentro dela.
Foi à bruta! Não lhe vendi só o sexo. Vendi-lhe também
a alma, dois ao preço de um. Os aborígenes é que têm
razão: um homem é que dorme com uma mulher. Não é
uma mulher que dorme com um homem.
Fui um homem de vida fácil. Até ao dia em que... uma preta com
cara de santa, linda como dois seios virgens, apontou-me o feitiço e
atirou a matar. Nunca fui de "paixonetas". Mas dessa vez foram duas
curandeiras a cozinhar o feitiço; uma da Catembe e outra de Mambone
.
Foi a morte do artista!