A cela dos sodomitas é pior que o inferno do diabo; pior que a cela do
recluso canibal; pior que mil facadas com djungwa. O infeliz que fosse empurrado
para a cela dos sodomitas a noitinha, na manhã do dia seguinte saía
de lá desparafusado da vida, cheio de chupões e sem cuecas, com
as nádegas em carne viva, como se tivesse estado toda a noite, a fazer
sexo com a biela de uma locomotiva.
O Cabaré de Striptease é o único sítio em Maputo,
onde se pode comprar sexo a crédito. A "gasosa" é barata,
o tabaco também e só há três prostitutas para trinta
fregueses. A "água podre", a que chamam "gasosa",
é feita com pilhas e comprimidos. Os bêbados daquilo têm
os dias contados nos dedos duma mão. Já não é notícia
ver bêbados a tossir o fígado em pequenas gotas de sangue coagulado.
Se não for de fígado, morrem de sexo; isto porque, as prostitutas
generosas estão sempre a perdoar-lhes as dívidas antigas, na condição
de as voltarem a fazer. (É como no HIPC).
Tem o mesmo cheiro, a cela e o cabaré; cheiro a cadáver em posição
de lutador. Porque morre-se na cela e morre-se no cabaré. Morre-se na
cela, de exaustão sexo-analense ou de eutanásia por não
se conseguir viver com a vergonha do rabo vandalizado. Morre-se no cabaré,
de sangue espumado pela boca na explosão do fígado, fulminado
pela água de pilhas e comprimidos: a "gasosa"! E morre-se nos
dois, de borbulhas espumantes, meio amareladas, em consequência do sexo
desleixado. Mas se me derem a escolher entre a espada da cela e a parede do
cabaré, eu escolho o cabaré. Ali, pelo menos, ninguém ataca
o rabo do outro a estupro e martelo.