Quando ela era menina e estudava no Colégio de Freitas, vivia cercando
a freira que cuidava da capela: - Como é que se faz as hóstias?
Mas a irmã era irredutível: realizava sozinha, e com ar de muita
pompa, o ofício. Bons tempos aqueles em que a menina saberia dizer, pela
data, qual seria o salmo, os mais adequados cânticos, a cor da vestimenta
do padre e também a do altar.
Numa feita, ficou doente. Era caxumba. Nada de brincadeiras e nem de muito contato.
Nada. Uma praga. No domingo, o ouvido estava mais para tampado mas não
o suficiente pois do pátio vinha a algazarra das brincadeiras, dos jogos,
das risadas; e a menina? Na enfermaria. Acaso o padre não dizia no sermão
sobre as graças da comunhão, do poder do sangue e do corpo de
Cristo?
Ocorre que no mesmo andar da enfermaria era a capela. O cálice estava
repleto delas. Redondamente brancas, quase transparentes. O vinho, numa delicada
e minúscula jarra. Foi tudo pela cura: comeu as hóstias como se
fosse farofa e bebeu uma boa porção do vinho como se fosse K-Suco.
Logo estaria curada, pensou. Curar não curou mas ouviu o sururu
que vinha da capela na hora da missa da tarde...
Dias depois, a alta, e a sentença: aprender e fazer 500 hóstias.
Enjoou da cara delas. Nenhuma sentença é gostosa. Que o diga a
menina. E a freira pomposa.
(15/02/05)