A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Morrer de amor

(Cissa de Oliveira)

Estivemos falando sobre o amor. Acho que ainda estamos. É bom falar sobre o amor. Se é difícil falar dele sem entrar no quesito paixão? Muito. Não, o amor não é um fogo de artifício, essa coisa que explode e morre com a mesma velocidade. É? Do muito que li, e muito eu já li sobre isso, o amor seria uma eterna busca, mais ou menos como aquela do bebê à procura do aconchego materno. Várias notícias nos dão conta do quanto a falta desse aconchego pode ser prejudicial ao ser humano pela vida afora. Não sei, e nem penso em entrar no mérito acadêmico ou científico da coisa. Pra que? Concluí que o amor faz parte daqueles assuntos que, salvaguardados alguns limites, definimos de um jeito e sentimos e por vezes até vivemos de outro. Talvez exista aí uma força maior.

Do jeito que eu tenho observado, eu diria que essa força são os hormônios e uma grande confusão. Refiro-me ao amor entre homem e mulher. Como explicar que, fedelhos ainda, já nos consideremos amando? Talvez o amor pressuponha alguma coisa a mais. Não dá para deixar de lado a questão cultural. Existem países extremistas onde beijar na boca só ocorre como preliminar ao ato sexual. O modo de vida, principalmente o ocidental, o cinema, as músicas, as propagandas, o sol do nosso país, a exuberância dos corpos, a exaltação da paixão, enfim, tudo nos leva a essa diversidade de comportamentos e opiniões. Separar o joio do trigo, eu diria, não é uma coisa que atinemos de repente, tampouco seja alvo de preocupação, principalmente na adolescência. Sobre a paixão? Isso também daria não um mas muitos livros, assim como o amor. Difícil é falar de um sem falar do outro. Mas o que é um e o que é outro? Como alguém que vivenciou toda essa discussão na última semana, eu diria que isso é lá com os especialistas. Melhor ainda, entre os casais.

Não cito ninguém em particular, foi construtivo ler tantas opiniões e posicionamentos com relação ao assunto. Poetas, ah os poetas, bem disse o nosso José António Gonçalves, num dos seus poemas: "...poetas, esses malditos carentes de amor..." . Eu só fico me perguntando o porquê de nos arreliarmos uns com os outros se sabemos que o amor é mesmo assim, difícil até de se falar? Eu havia prometido escrever o "implodiu na pax" em contrapartida ao "explodiu na pax" da semana passada mas não posso. Amor é tudo de bom. Não implode nunca e quando explode é no sentido de florir, porque ele nos põe pra fora, mesmo quando não passa de um segredo espelhado nos olhos, eterno como um instante que por conta própria escolheu se guardar na memória.

É, é bom falar de amor. Melhor é vivê-lo, quiçá, sem perceber morrer de... mas isso era em outros tempos, bem antes do fast food e outras praticidades.

(26.04.06)

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