Estivemos falando sobre o amor. Acho que ainda estamos. É bom falar
sobre o amor. Se é difícil falar dele sem entrar no quesito paixão?
Muito. Não, o amor não é um fogo de artifício, essa
coisa que explode e morre com a mesma velocidade. É? Do muito que li,
e muito eu já li sobre isso, o amor seria uma eterna busca, mais ou menos
como aquela do bebê à procura do aconchego materno. Várias
notícias nos dão conta do quanto a falta desse aconchego pode
ser prejudicial ao ser humano pela vida afora. Não sei, e nem penso em
entrar no mérito acadêmico ou científico da coisa. Pra que?
Concluí que o amor faz parte daqueles assuntos que, salvaguardados alguns
limites, definimos de um jeito e sentimos e por vezes até vivemos de
outro. Talvez exista aí uma força maior.
Do jeito que eu tenho observado, eu diria que essa força são
os hormônios e uma grande confusão. Refiro-me ao amor entre homem
e mulher. Como explicar que, fedelhos ainda, já nos consideremos amando?
Talvez o amor pressuponha alguma coisa a mais. Não dá para deixar
de lado a questão cultural. Existem países extremistas onde beijar
na boca só ocorre como preliminar ao ato sexual. O modo de vida, principalmente
o ocidental, o cinema, as músicas, as propagandas, o sol do nosso país,
a exuberância dos corpos, a exaltação da paixão,
enfim, tudo nos leva a essa diversidade de comportamentos e opiniões.
Separar o joio do trigo, eu diria, não é uma coisa que atinemos
de repente, tampouco seja alvo de preocupação, principalmente
na adolescência. Sobre a paixão? Isso também daria não
um mas muitos livros, assim como o amor. Difícil é falar de um
sem falar do outro. Mas o que é um e o que é outro? Como alguém
que vivenciou toda essa discussão na última semana, eu diria que
isso é lá com os especialistas. Melhor ainda, entre os casais.
Não cito ninguém em particular, foi construtivo ler tantas opiniões
e posicionamentos com relação ao assunto. Poetas, ah os poetas,
bem disse o nosso José António Gonçalves, num dos seus
poemas: "...poetas, esses malditos carentes de amor..." . Eu
só fico me perguntando o porquê de nos arreliarmos uns com os outros
se sabemos que o amor é mesmo assim, difícil até de se
falar? Eu havia prometido escrever o "implodiu na pax" em contrapartida
ao "explodiu na pax" da semana passada mas não posso. Amor
é tudo de bom. Não implode nunca e quando explode é
no sentido de florir, porque ele nos põe pra fora, mesmo quando não
passa de um segredo espelhado nos olhos, eterno como um instante que por conta
própria escolheu se guardar na memória.
É, é bom falar de amor. Melhor é vivê-lo, quiçá,
sem perceber morrer de... mas isso era em outros tempos, bem antes do fast
food e outras praticidades.
(26.04.06)