Doces são as palavras que imagino ouvir de teus lábios. Suaves
e belas, vôo de algodão do colibri. No entanto, são apenas
sonhos, fantasias de poeta, pois tua voz é seca e áspera, entrecortada
de silêncios.
Não estou no rol dos mais cotados objetos da tua atenção.
Não faço tanta falta assim. Talvez nem tu me o faças, mas
gosto de me saber viva, presa, indefesa, paixão.
Idealizo tanto, que não mais consigo ser feliz por inteiro. Sempre espero
o que não vem, ouvir o que não foi dito, rir do que não
é piada, chorar do que não tem motivo.
Estou atrasada na relação e acabo estragando tudo, sem querer.
Prometo a mim mesma não dar sinais de perigo, não desnudar essa
mar de emoções e, tampouco, a fome de mais e mais.
Naufrago em minhas próprias ondas, inconstante. Fico à deriva.
Sobrevivo ilhada, cercada das águas salgadas dos olhos.
Cansei dessa inquietude.
Quisera trocar de elemento, deixar de ser mar, entre tempestade e calmaria,
para ser terra firme, sempre pronta para novo cultivo. Adubar-me de teus beijos,
de teus toques. Ser fértil de carinhos, para desabrochar em tua língua.
Porém, tudo o que me sopra é vento, vendaval, destruição
por correr demais, por tanta brisa, que dói o frio que me refrescava.
E o que me consome é labareda, incêndio de incertezas, ardendo
o peito até às cinzas.
Preciso mudar, eu sei, muito embora entenda que o que me move é a poesia,
que é a dor de conhecer a chegada, sem provar de todos os caminhos.
Então, desisto e volto em vagas. Maltrato o corpo e os olhos, sem ombro
ou abraço. Não quero sorrisos, que eles me doem demais, quando
se vão.
Sou a pior inimiga dos supérfluos de que tanto me enfeito. No entanto,
me deito nua e fria. Marmórea cama, empedrecida de ausências.
Maltrato o corpo e os olhos.
Preciso descansar da viagem das nossas diferenças de fuso, mas tua falta
me deixa obtusa.
Fico à espreita das horas, em expectativa, aguardando um sinal.
A pele resseca, os lábios partem (como tu), os olhos solam.
Por instantes, o vazio. O telefone, que não toca.
Melhor assim.
E aí, vem essa força, essa coragem, sabe-se lá de onde,
e basta olhar para o espelho, que o velho sorriso rasga a face, exibindo um
viço de alma fresca, que não pode sonegar nascentes.
Asas novamente abertas, plumagem conhecida e bem cuidada, encaro, reluzente,
mais um dia, quem sabe aquele, em que tua boca dirá tudo.
E ainda resta a dúvida, que nunca saberemos, se, depois de tanta espera,
ao escutar as palavras certas (por ironia), eu volte, peregrina, a perseguir
outros versos.