É, pessoal, o Rio conseguiu! Vamos sediar os Jogos Olímpicos de
2016! Não é o máximo?
Meu coração ficou absolutamente dividido nessa questão.
Por um lado, meu "eu" patriótico se encheu de orgulho, alegria,
vaidade. Nossa! Meu país, minha cidade! Que orgulho! Aos pouquinhos vamos
nos infiltrando na panelinha. Lentamente o Brasil vai ficando mais conhecido
no mundo, vai deixando de ter "Buenos Aires" como sua capital. Afinal,
nada mais justo, pois não devemos nada, em termos de belezas naturais
e qualidade esportiva, a nenhum outro país do mundo, guardadas as devidas
proporções e dificuldades nacionais.
Porém, um outro lado se agita e se preocupa, pois 25 bilhões
surgirão como que por encanto, para preparar a cidade para evento tão
vultuoso. Fica a pergunta que não quer calar: de onde virão os
25 bilhões?
Nosso país possui problemas endêmicos de educação,
saúde, segurança, emprego, habitação, já
bastante familiares ao nosso dia-a-dia. Para saná-los, não existe
bilhão nenhum. Existe esperteza, enganação, embromação.
Existem medidas paliativas. Permanece o medo, o marasmo, a anemia, a ignorância.
Quem bancará esses 25 bilhões?
Não digo que não surgirão empregos, que a cidade não
será embelezada, que não será um marco para o país,
enfim, um evento maravilhoso. Contudo, sabemos que se trata de maquiagem. Que
por baixo da grossa camada de blush e pankake, o povão
continuará pobre, faminto, apertado horas a fio em transportes indignos,
com medo 24 horas por dia.
Aí me vem a pergunta abafada: e se aplicássemos esses 25 bilhões
em nós mesmos? E se injetássemos uma quantia polpuda como essa
na saúde, educação, segurança e habitação?
E se déssemos condições dignas aos nossos jovens de se
tornarem atletas bancados pelo governo, e se tornarem adultos com um futuro
palpável?
Na ocasião do preparo para o "PAN 2007", o Rio de Janeiro
viveu um período de aperto, com toda a verba municipal desviada para
as obras, na esperança de haver uma luz no fim do túnel, uma injeção
de dinheiro estrangeiro, de se abrirem portas para o futuro. As únicas
portas que eu vi foram as da rua, para uma série de trabalhadores que
perderam seus empregos, ao final dos quatro anos em que se esperou pelo milagre.
O "PAN" não trouxe as divisas esperadas, nem transformou a
cidade em nada de diferente do que já não fosse.
Agora surge o receio de se repetir o mesmo nos Jogos Olímpicos, só
que, ao invés de quatro, serão sete anos de apertos, obras pela
cidade, verba reduzida, recusa (que já começou) de reajustes de
salário dos funcionários públicos, já tão
vilipendiados, enfim, crise em cima de crise, arrocho em cima de arrocho, de
forma que a qualidade de vida dos cariocas se restrinja cada vez mais.
Quero que me perdoem pelo tom algo negativo, justo no dia em que todos estão
comemorando, mas é que eu tenho uma visão mais real do que acontece
com nosso povo, com nossas famílias, com nossos filhos. Sofro, como todas
as mães, com cada manhã, quando não sabemos se, ao final
do dia, nosso filhos voltarão para casa e nem se nós mesmas voltaremos.
De toda forma, estou muito feliz com a escolha do Rio de Janeiro para sediar
a sede dos Jogos, pois seremos, por breve tempo, vitrine para o mundo, e acredito
que nosso povo mereça um olhar de mais respeito.
Rio 2016, será que eu chego lá?
(02/10/2009)